Tuesday, September 11, 2012

Sobre mãos e mães


Ontem à noite, quando passava os cremes antiidade, vi a mão da minha mãe. Mas não era a dela que eu via. Era a minha. Envelhecida. Nunca tivemos mãos parecidas. Nunca fomos parecidas. Sempre carreguei os traços - e jeito - do meu pai. Até que um dia eu deixei o ninho. E ao deixar o ninho, deparei-me diversas vezes com minha mãe. Nas manias, nos cuidados, nos pequenos gestos delicados,na determinação incansável de só ir deitar quando tudo estivesse no lugar – e a luz apagada. Em tudo que eu, por vezes, reclamava. Sair do ninho é perceber-se. É descobrir como se é sem o véu protetor, confortante e confortável que ganhamos com o primeiro abraço de mãe.

Wednesday, July 25, 2012

Aprendiz de feiticeiro

Voltei a escrever. Esse, agora, é o meu compromisso. E o mais difícil é que esse compromisso é comigo mesma, e é muito fácil trapacear com a gente mesma. Reclamar do trabalho, reclamar das contas, reclamar da vizinha eclética sem critério musical, não traz nada de bom. Escrever traz. Escrever é dividir – mesmo que só com a gente mesma, só que 5 (ou 30) anos depois. Eu sempre gostei de escrever, fazia cartinhas e colocava debaixo da porta do quarto da minha mãe pra pedir pra ir naquela festa, enviava pra uma amiga de longe pra falar sobre a falta que ela fazia ou pra surpreender o namorado – ou ao menos pra tentar conseguir isso. Acho que quando escrevíamos algo pra alguém éramos mais criteriosos, mais cuidadosos, mais delicados. Não lembro de saber de alguém que enviasse pelo carteiro 5 cartinhas iguais pra 5 meninas diferentes. Hoje, o mesmo recadinho que chega pra uma, no mesmo instante chega pra mais meia dúzia delas – e, se bobear, pra melhores amigas. Escrever pra alguém era algo quase lúdico. Lembro de receber cartinhas de meninos no colégio e que, hoje, imagino o quanto ficaram em dúvida antes de entregar – ou pedir que o melhor amigo o fizesse. E caso soe algo infantil, não só as crianças faziam isso. Meus avós faziam isso. E depois reencontravam as cartas em meio a livros amarelados. Escrever pra alguém, com cuidado, é mágico.

Monday, May 14, 2012

Pelas tabelas

Não é fácil criar uma marca. Medos. Apostas. Impostos. Sonhar é bem mais fácil que projetar. Sonhar é colorido. Projetar é preto e branco. Sonhar é ver o que pode dar certo, projetar é mensurar os riscos. Mas ter uma marca não se trata só de uma patente, um right, um símbolo gráfico. Ter uma marca é algo que nasce com a gente, como o jeito de prender o cabelo, de amarrar o cinto, de maquiar o cantinho do olho, de encontrar aquela peça desacreditada e empoeirada no canto do brechó e dar a ela uma vida nova – e graciosa. Foi assim que duas irmãs resolveram que era hora de acreditar no sonho e criaram um projeto em cores.

Monday, January 30, 2012

Perto de longe

E saber-se lembrada é o prêmio do dia. É alegria pura, na sua mais concentrada e simples essência. Saber-se lembrada é ouro, é riso, é vôo. Saber-se lembrada é viajar pra perto, pousar ao lado e descansar no peito.

Sunday, May 15, 2011

De repente 30

Chegaram os 30. Número forte esse. Bate um medo do tempo que vem, dúvidas do tempo que foi. Mas ele traz consigo muito mais que isso. Quer uma prova?
1. A pele não tá mais tão boa, mas as amigas têm dicas de cremes milagrosos.
2. Temos a própria grana para comprar esses cremes.
3. Dá pra voltar pra casa sem tirar os saltos pra que não façam barulho e te entreguem que já é de manhã.
4. Dá pra não voltar.
5. Falar sobre sexo passa a ser ‘conhecimento’.
6. Sexo casual não vira mais boato.
7. Dá pra usar franjinha e parecer novinha ou encarar um par de óculos e bancar a ‘mulher madura’.
8. A gente aprende a driblar a saudade (ou ao menos a fingir muito bem).
9. A gente aprende que ligar no outro dia pode ser legal.
10. Ser mãe deixa de ser um sonho e passa a ser um plano.
11. Ser irmã deixa de ser um saco e passa a ser cumplicidade.
12. Ser filha deixa de ser um castigo e passa a ser uma benção.
13. Dá pra pegar os de 20 sem parecer ‘titia’ e os de 40 sem parecer ‘Lolita’ (leia-se: muito mais alternativas).
14. A casa agora é tua, podes deixar os copos sujos na pia da cozinha por uma semana (e as calcinhas no banheiro também).
15. Ouvir Lady Gaga não é mais over, agora é cult.
16. Ouvir Chico Buarque não é mais cult, é refinamento.
17. Se apaixonar pela bolsa da vitrine não dói mais (afinal, de que valem os cartões?!).
18. Escrever diários não é mais carência infantil, agora é ‘autobiografia’.
19. Dá pra pegar o carro sem pedir (dá pra comprar carro também).
20. Dá pra viajar pra onde quiser.
21. Dá pra fugir pra casa das amigas que agora também têm casa.
22. Dá pra tomar porre que agora chama ‘happyhour’.
23. Dá pra sair de casa (e dá pra ficar em casa também).
24. Dá pra conhecer gente nova (e dá pra pensar que as velhas eram boas).
25. Agora o trabalho tem nome certo, não é mais um trabalho com nome de ‘Estágio’.
26. O medo de menina que faz pensar sem parar agora chama ‘sensatez’.
27. Estudar outra língua não é mais obrigação, é upgrade.
28. As amigas de mentira já se entregaram, e as que sobraram são eternas.
29. As amigas eternas também não têm mais 20 anos.
30. As amigas de mentira também não têm mais 20 anos (e, com sorte, não têm grana para os cremes milagrosos).

Wednesday, April 27, 2011

Agora eu era

Agora eu entendo cada uma daquelas palavras ditas por ti e que, naquela hora, me pareceram exageradas, algumas até sem sentido, desencontradas. Agora eu entendo aqueles ombros caídos, aqueles olhos cansados, aquela angústia por um afago, aquela inquietude misturada à exaustão. Agora eu sou aquele que vi em frente a mim.

Tuesday, October 19, 2010

Assim

Sutil e suavemente como quem respira. Perdida e desvairadamente como quem lhe falta o ar.

Do lado de dentro

Eu, coração, tô feliz por ti, por mim, por ela e por nós. Tô em paz. E espero ficar assim pra sempre. A inquietude faz bem quando a gente precisa voltar a se sentir vivo outra vez, mas, quando é crônica, sufoca e nos maltrata. Nós, os corações, não entendemos muito bem por que vocês pensam tanto, nós só sabemos sentir (e somos bem felizes assim). Às vezes tu falas algumas coisas pra ela que me fazem acelerar de montão e parece até que não vou aguentar. Ela bem que gosta, mas eu bem que me assusto. Noutras, tu ficas bem quietinho e me deixas ficar sentindo o teu (esse é o meu momento preferido!). Tenho que confessar também, que dói quando eu sinto saudade, mas se sei que tu vens ficar pertinho de mim, tento me fazer de sonso pra que ela não sofra e fico quietinho aqui, contando os segundos a cada batida. Agora ela já tá chorando (chora feito uma boba) e eu tava aqui transbordando, por isso vim desabafar contigo. Sucesso, meu amigo! Eu te amo.

Monday, July 12, 2010

Total e breve

Recebi o resultado do meu primeiro exame de sangue. Sei que isso não é lá muito responsável, mas, sim, esse foi o primeiro. Tá tudo bem aqui dentro, ao menos biologicamente falando. Mas a pequena notícia que fez bem foi saber que sou doadora universal. Se precisar, é só chamar! Me senti mais útil. Mais humana. Mais coração – e sangue. É curioso como as notícias ruins vêm repletas de introduções, vírgulas, parênteses, porquês, enquanto as boas chegam assim, em duas palavras: “te amo”, “é menina”, “ tô aqui”, “eu quero”, “O negativo”. Sem explicações. Sem mais – nem mas.

Friday, July 09, 2010

Le goût du vent

Um tornado. Tudo fora do lugar. Inclusive a gente mesmo. E já não se sabe o que era pra estar ali, aqui, lá longe, lá nunca. Confunde. Intriga. Deixa sem rumo. Deixa sem chão. Aperta. Transtorna. Sufoca. Acelera. Desespera. A brisa afaga. Brinca. Relaxa. Acalma. Amansa. Mas... te leva?

Fluo

E hoje eu só queria um botãozinho. Um repeat. Início, meio e fim. Fingindo uma curiosidade infantil de quem descobre o tesouro escondido por si mesmo. Assim, dissimulada. Assim, inteira.

Wednesday, June 09, 2010

La nieve en la bola de nieve

O termômetro avisa: o°. Casacos cheirando a guardados. Suspiros virando fumaça. E parece que o frio congelou o tempo.

Tuesday, June 01, 2010

Partícula mínima de qualquer coisa

Estou de partida. Deixei lembranças em alguns cantos. Talvez te roubem um sorriso contido ou te causem desconforto, inquietude, estranhamento, espanto – o que já não mais me importa.
Por que soluças?
Agarrei-me a ti o quanto pude. Ouvi calado, sofri calado, chorei calado.
Suportei devaneios, desconstruí incontáveis teorias; fui tolerante, intenso, inteiro.
Duvidaste de mim e fizeste-me breve. Pois te enganas. Breves são as Paixões. O Amor envelhece. Assim como as horas que correm soltas, ninguém é capaz de parar o Amor. Sou aquele que te acompanha de outros tempos.
Por que soluças?
Talvez devesse partir apenas. Já o fizeste tantas vezes... Mas, me despeço. Sou maior. Infinitamente maior. Sou etéreo. Sou do tamanho do tempo. Não guardo o gosto azedo do desgosto. Sei que – apesar de creres no contrário – sabes mais sobre as palavras que sobre mim. As palavras te confundem. Sou o silêncio.
Por que soluças?
Quando sentires saudade, lembra-te que sou parte de ti. Sem ti sou nada. Vagueio à espera da hora em que possa descansar no teu peito outra vez.
Por hora, parto.
Por que soluças?
Não te esqueças: "nascer leva tempo”.

Wednesday, January 27, 2010

Chuva de verão

Eu sempre gostei dela. Desde pequeninha eu achava divertida aquela chegada de surpresa, mesmo que tentasse acabar com meu passeio. Mas eu ficava lá, encarando. E, por mais que a gente toda fizesse cara de brava, eu sempre via um meio-sorriso no canto do rosto. Aí era aquela gritaria e todo mundo correndo pra lá e pra cá. Desmanchava os penteados das vovós e acabava com os paletós que tinham acabado de vir da tinturaria. Tira a roupa do varal! Fecha as janelas! E quando mal se via, lá ia ela. Agitava a gente toda e ia logo embora, como se viesse só pra fazer essa mesma gente toda parar de girar a roda da mesmice. Vinha pra renovar, refrescar. Refrescar os rostos, as flores, o ar. Eu conheço pessoas assim: pessoas como CHUVA DE VERÃO. Chegam de repente, num domingo ensolarado ou numa tardinha sem graça e mudam tudo. E ainda há gente que faça cara feia, mas assim como eu via na infância, ainda reconheço os meios-sorrisos. Elas passam, simples assim, pois existem muitos rostos, muitas flores e muitos ares precisando delas. Mas voltam, no próximo verão elas voltam.

Tuesday, January 19, 2010

Eu tenho um plano

Sei que ainda não me conheces e, talvez, nem venhas a gostar de mim. Mas eu já te amo e já conto os minutos (mesmo que eles teimem em se arrastar). O choro inesperado, a risada solta, o cheiro de soninho que já sinto daqui. Os primeiros sons, as primeiras letras, juntá-las. Escrever sem parar até fazer um milhão de bilhetinhos para encher todos os bolsos da mamãe. Todas as maquiagens, todos os vestidinhos (combinando com a bolsinha), todos os penteados que vamos inventar. Ou, quem sabe, todas as tardes de um futebol desajeitado, sujos de terra e suor. Apitar a campainha, correr sem parar, andar dentro do carrinho do supermercado. Imitar o vizinho, fazer um filme, dançar até o pé pedir pra dar um tempo. Um dia inteiro de sorvete, pintar o nariz, pintar a parede, pintar o mundo inteiro e depois descansar. Por isso eu te espero, pequeninho, porque eu já tenho um plano pra nós.

Tuesday, December 01, 2009

Sobre Laços e brigadeiros

Nós, os Laços, somos assim, inocentes e delicados. Mas existem também os falsos laços, laços malfeitos, laços desfeitos. Só um Laço verdadeiro é eterno, mesmo que fique por uns tempos guardado na gaveta. Amarramos sorrisos, lembranças, saudades de outros tempos. Mas nem só de passado vive um Laço: há os Laços recentes. Surgem de repente, trazendo graça e atando presentes.


FELIZ ANIVERSÁRIO, Mary!
E que esse novo Laço jamais se desfaça.

Wednesday, October 07, 2009

Sobre as despedidas

E ela, que tanto me fez companhia, partiu. Não vi remorso, incerteza, não vi qualquer tanto de arrependimento - nem sequer ouvi o barulho da porta batendo. Talvez tenha partido enquanto eu dormia. Ela, que bem me aqueceu enquanto o tudo me parecia de um frio polar, partiu assim, sem nem sequer me acenar. Pois, vá. Vá, minha Melancolia. Quiçá nem soubesse eu como me despedir. Mas, volte. Volte quando a Euforia desses dias insistir em partir.

Sunday, July 26, 2009

190

- Emergência?
- Oi, moço... Tem um nó aqui... Por favor, mande alguém correndo pra me tirar esse nó que ficou preso na garganta?
- (...)
- Moço? Moço?

Tuesday, December 18, 2007

(Des)encanto

E fui subindo, subindo, sem medir a altura do tombo. Subi leve. Leve feito pluma. Um vôo breve como o daquela que flutuou no ar por oito segundos. E caí. E foi nessa hora que me faltou a sutileza dela. Só as plumas sabem cair com graça, como quem deita no colo da mulher macia.

Contrassenso

O que é capaz de me fazer mais feliz traz consigo o poder de me causar o maior dos estragos.

Wednesday, November 07, 2007

Letras de macarrão

Ela atravessa a rua de mãos dadas com o maior homem do mundo. Um gigante. Ela senta e ouve histórias. Ela ouve as músicas que ele canta tão bem, ela ri. Ela foge de casa e volta chorando. Ela briga, ela pede desculpas. Ela pede pipoca, ela pede colo, ela pede tudo o que vê pela frente. Ela espera ele voltar de viagem com os braços pedindo abraços e os olhos cuidando a velha mala esperando presente. Ela é a gatinha do papai. E agora que ela cresceu, ela só quer poder atravessar a rua de mãos dadas com o maior homem do mundo pro resto da vida. Fica bem logo, meu amor, meu pai, meu amigo, minha fera.

Sobre olhos e vulcões

e o que já dava por esquecido
estava escondido debaixo das pálpebras quando foi dormir

Sunday, October 21, 2007

O dia em que o bobo virou super-herói

Tímido, ombros estreitos, pequenos olhos, coração fadigado, vestido de um misto de vergonha e medo, seguia a passos curtos o mesmo leste-oeste de anteontem. Naquele dia, avistou a menina despida de um misto de alegria e graça, num espaço grande demais pra ela. O bobo, ainda que sem jeito, vestiu-se de coragem, tirou do bolso gasto um pedaço de papel e com seus traços sutis esboçou uma flor. Uma flor tão frágil quanto as pernas finas da menina. Levantou, primeiro, os olhos, a testa franzida. Estendeu a mão trêmula e molhada. A menina sorriu e, naquele instante, conheceu seu super-herói. Um super-herói sem luzes, sem músculos, sem força, sem poderes. Um super-herói com coração de poeta.

Thursday, September 06, 2007

Para a maior pequenina da via láctea

Ela era tão pequena que me parecia o mesmo tanto frágil. Fui chegando pertinho e mais pertinho a cada dia. Foi aí que descobri que era só um disfarce. Um disfarce pra não assustar, pra que pessoas grandes como eu, se encorajassem a chegar pertinho e mais pertinho a cada dia. Um disfarce pr'aquele tamanho imenso que tinha.

Tuesday, September 04, 2007

Cor-de-rosa e carvão

Não conhecia o lugar, os cheiros, as vozes, as cores - que mal apareciam – em meio àquele dia cinza. Não sabia as mãos, os atalhos, nem as praças. Lá, o vento soprava diferente, como que perdido, sem saber o sentido pra onde ir. Foi quando avistou um velhinho que vendia algodão doce. Uma sensação tão boa, em meio àquele lugar tão frio e distante. Foi ali que descobriu o gosto que tinha a infância. A infância tinha gosto de cor-de-rosa.

Sunday, September 02, 2007

"Quem fala é o doutor..."

- Tô tão feio... Perdi a cor...

- Anemia?

- Saudade...

Monday, June 18, 2007

Posso entrar?

Queria te ver aí, agora, de surpresa, sem me esperar, nem sequer levar os copos sujos pra cozinha. Queria só espiar da janela, ou, se abuso não fosse, pedir um abraço demorado e quatro horas de uma conversa leve, saudosa. Gargalhadas soltas, pés sobre a mesa de centro (ou o baú de tempos atrás – repleto de sonhos adormecidos). Acordá-los. E sairia assim, inesperadamente, deixando apenas um sorriso ao olhar pra trás. Poucos segundos, como quem volta tão logo que nem carece a despedida.

Sunday, June 17, 2007

Sobre a luvinha de nariz

Tem dias de um frio danado que nada faz esquentar. Nem o cobertor xadrez, nem chocolate quente com merengue, tampouco o foguinho da lareira. Então eu abro as velhas gavetas e pego minhas meias coloridas: 1, 2, 3 pares e sigo gelada que dói. A calça fundilhuda de abrigo, o casaco de lã que já fez bolinha, o cachecol listrado, o par de pantufas fofinhas. Nada, nada disso me deixa tão quentinha quanto encostar o narizinho em ti.

Saturday, May 19, 2007

Sobre a lâmpada que sonhava em ser vagalume

- Dorme, lampadinha, dorme...

(ela insiste em acordar na hora em que todos vão dormir... às vezes, fica na rua, desperta até de manhãzinha... dias em que algum dorminhoco dormiu demais e esqueceu de pô-la pra dormir... então fica lá, esperando a hora de sonhar... só assim, no sonho, vira vagalume e voa por aí...)

Monday, April 09, 2007

Sobre o medo

É bom tomar porre, tomar um táxi em dia de chuva, tomar um banho quentinho no inverno e banho de sol no verão. É bom tomar vergonha na cara e bom tomar uma grana – emprestada, é claro – da carteira do pai. É bom tomar remédio quando parece que a cabeça vai explodir e bom tomar um bebê nos braços – e eu sempre choro quando isso acontece. É bom tomar sorvete com o namorado e é bom até tomar mijada da mãe – porque é sinal de que ela tá pertinho. É bom tomar a matéria antes da prova e bom tomar chimarrão com as amigas no jardim de casa. É bom tomar champanhe no reveillon e cafezinho pra não cair no sono. É bom tomar banho de chuva pra virar criança, bom tomar vinho na frente da lareira e bom tomar um montinho de neve nas mãos. É bom tomar sopinha quando a barriga não tá lá muito bem, é bom tomar água, é bom tomar cerveja no boteco depois da aula, é bom tomar juízo – e às vezes perdê-lo também. Mas, mais que tudo, é bom tomar DECISÕES (mesmo que a gente mude depois).

Wednesday, March 14, 2007

Sobre flores e gatos

Talvez não sejam os gatos os únicos a ter 7 vidas. Já morri tantas vezes... Morri numa despedida, numa palavra que foi calada, na distância que me fez esquecida. Morri num abraço, morri numa estrada de volta pra casa. E fiquei ali. Estendida. E ninguém paga o enterro e as flores quando a gente morre de amores. Amor por alguém - e até por mim mesma, por um sonho, por um pedacinho que se desmancha. E, depois de algum tempo, vivo outra vez. Volto a sentir o ar tomando conta dos pulmões, mesmo que sufoque por um tempo. E tenho de voltar a caminhar, voltar a sorrir, voltar a encostar as mãos, voltar a acreditar nos sonhos, voltar a ser leve, deixar de ficar presa ao chão e voar por aí. Enquanto não chega esse tempo, o tempo de viver outra vez, fico ali, sem forças, sem graça, e vou indo embora junto com cada lágrima que cai do meu rosto. Até que, um dia, viro menina outra vez, com todas as incertezas, com toda fragilidade, hostilidade, com todas as dúvidas e medos. E vou crescendo e aprendendo tudo outra vez – e insistindo em não aprender as mesmas coisas de sempre. Insistindo em acreditar na ilusão de que viver é indolor.

Sunday, March 11, 2007

Sobre o querer

Podia querer um bom carro, uma casa na praia e um cachorro que não babasse. Podia querer ser linda, magra e com um cabelo - naturalmente - liso. Podia querer ser poliglota, saber cantar, dançar e tocar piano. Podia querer viajar pra Bruxelas, uma TV de plasma ou virar Diplomata. Podia querer três filhos, escrever um livro ou sair na capa da revista. Podia viver noutro século, ser homem, menino ou pé-de-moleque. Podia querer ser boneca, flor, música ou ate um país (o das maravilhas). Podia querer ser princesa, atriz de cinema, cachoeira ou acreditar no meu Partido. Podia querer viver mil anos, virar anjo, estrela cadente e cair por aqui. Mas, não, agora eu só queria que tudo ficasse bem.

Friday, March 09, 2007

Sobre o vazio

“... mais ridículo ainda, é não escrever cartas de amor” Essa é a capa de um pequeno caderninho - lindo - que ganhei de uma grande amiga. E, ao me entregar o presente, ela pediu que eu escrevesse sobre o assunto. Muito bem, mãos à obra. De uns tempos pra cá, o romantismo ficou fora de moda, os relacionamentos viraram drive thru e as boas (e velhas) declarações de amor tiraram férias. As músicas, as roupas, as idéias, agora cobertas de estupidez e recheadas de um vazio sem tamanho. “Você era a princesa que fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país” dizia Chico Buarque. “If you wanna be rich You got to be a bitch” diz, hoje, um desses aí que nem sei o nome. Isso, sim, é ridículo. Ridículo é fingir um sorriso feliz, ridículo é não ser autêntico, ridículo é esconder que falhou. Ridículo é ter vergonha de si mesmo, é mentir o tamanho, o peso e as intenções. Ridículo é não ler, não ouvir, não abraçar a mãe e o pai. Ridículo é criar pré-conceitos, é não andar a pé, é não chorar, não dançar, não colocar o pé na areia, não sentir a chuva, e, mais que tudo, ridículo é ter vergonha de dizer que amou.

Tuesday, February 27, 2007

As mentiras que as mulheres contam

Perdi o sono, bati o carro e tô sem grana pro conserto. Tô desempregada, doente, o ventilador quebrou e tá um calor do cão. Não tem água na geladeira, abandonei a Coca-Cola, o aparelho fez ferida, o cachorro não pára de latir e tô com dor de cabeça. Não aguento mais meu cabelo e não confio em cabelereiro. Tenho que acordar cedo, pegar um ônibus e a previsão é de chuva. Engordei, desbotei, tô mal humorada, na TPM e a unha- RECÉM PINTADA - estragou. Não tem chocolate, nada interessante na TV e a lâmpada queimou...




(... ele tá longe)

Sobre cuecas e futebol

“As mulheres casam com Che Guevara e depois pedem pra que ele tire a barba”
Ouvi essa frase inteligentíssima numa entrevista com Maitena, escritora argentina. E, rindo, tive de concordar.
Então, a gente se encanta. Por algum motivo que não se explica, ou porque ele tem um belo sorriso e palavras incomuns no vocabulário, o resto das luzes se apagam e fica uma só acesa: bem em cima dele. E a cada dia algo de novo surpreende e até o que incomoda a gente releva (afinal, não é qualquer um que tem um perfume daqueles). A gente ri com ele, ri dele e ri até sozinha também. E chora. E sente saudade. E fica duas horas esperando ao lado do telefone - só apanhando pó, porque ele foi pro jogo de futebol da semana e não avisou (mas, também, não é nada tão grave assim, basta um abraço - mesmo suado e depois de uma derrota por 12x0 - e a gente já se derrete ). Ele esquece o aniversário de namoro, o aniversário da sogra e até do nosso aniversário (ah, mas eu também já esqueci o aniversário da Tia Lurdes – aquela que mora há 8 anos em Manaus). Tudo passa. Tudo se justifica. Nada tem tanta importância quanto a presença dele.
Até que um dia a gente “cansa”. Fica irritada por quase nada (até porque ele não lembra o nome da nossa Tia – aquela, a Lurdes). Aí começa o perigo.
A gente quer mudar a mania de deixar as cuecas no chão do banheiro – a qual nunca surtiu reclamações - e até a de dormir cedo demais. Quer que ele goste de literatura e que seja mais descontraído. Que não vá ao futebol da semana – o mesmo de 14 anos atrás – para fazer ioga com a gente. Que ele se interesse por Neruda, por moda, por drenagem linfática, que mude o cabelo, que aprenda malabares – e ele nunca foi lá muito habilidoso. A gente resolve brincar de massinha – a de modelar. E passa a querer moldá-lo do nosso jeito – e, de preferência – que caiba na nossa mão.
A gente se apaixona por alguém que chega já pronto – mesmo com os defeitos de fabricação. A gente se adapta? Claro! A gente se esforça? Às vezes. A gente melhora? Tomara! Mas mudar, ninguém muda. E, cá pra nós, ele fica LINDO demais com aquela barba.

Superdosagem

De repente fiquei doente. E doeu. Ah, doeu. Mas mesmo chorando, mesmo querendo tomar um comprimido pra dormir pra sempre, eu tava feliz. Feliz pelos cuidados da mamãe, pela atenção do papai e pelos carinhos do moço do pé engraçado. E tão de repente quanto fiquei doente, curei. Deram-me o mais poderoso dos antídotos contra tudo o que há de ruim: doses imensas de amor.

Wednesday, January 24, 2007

Volta logo

Ela é linda com dor de barriga, ela é linda dormindo e até quando acorda cheia de remela. Ela é linda chorando e mais ainda sorrindo. Ela é linda passeando e linda quando pára diante do espelho. Linda penteando o cabelo e linda fazendo batata frita. Ela é linda nas palavras, nas idéias, nas mãos (sempre quentinhas), nas roupas bagunçadas no armário. Linda nos livros que ficaram na estante, linda nas músicas que gosta de ouvir. Linda na escova de dentes que ficou perdida. Linda de salto alto e linda de pés descalços. Linda quando briga comigo, quando dá gargalhadas e linda quando fica de beicinho. Linda nas fotos que não paro de olhar. Ela é linda quando me faz sentir uma saudade deste tamanho. Simplesmente, linda.

Sobre cenários e silêncios

Quando eu era pequena, bem pequena, tinha uma amiga imaginária. E não importava se eu tava feliz ou triste, sempre corria ao telefone pra falar com ela. Talvez por saber que ela ia concordar com tudo que eu falasse, por saber que eu podia falar o tempo que quisesse, que ela não ia fazer cara feia, nem pediria pra eu ligar depois porque tava no trânsito, fazendo a unha ou assistindo ao programa preferido na TV. Por saber que por mais errada que eu estivesse, ela seria compreensiva. Eu só queria dividir com ela, criar estórias, discutir problemas que eu mal sabia que um dia existiriam de verdade e aí, sim, seria bom brincar de faz-de-conta. Eu podia contar sobre meu dia criando cenários mais coloridos, conversas mais demoradas que um:
“- Oi, td bem?
- Td. E cntg?
- Tb.”
Podia chorar sem me preocupar se iria deixá-la triste ou não. Podia ficar em silêncio, só ouvindo a respiração (mesmo que fosse a minha mesmo). Então eu falava... Falava horas (naquela época ainda não sabia o que era uma conta de telefone).
Perdi minha amiga imaginária. O telefone ficou caro demais. Eu cresci. E agora, percebi que escrever foi a minha nova versão (bem menos criativa, como todo e qualquer adulto) da minha amiga. Novas versões... Sempre prefiro as antigas. Talvez por ser saudosista - mas isso é assunto pra outro dia. Preciso desligar. Boa noite e bons sonhos. Um beijo.

Sunday, January 14, 2007

Sobre o despercebido

Um silêncio. Não havia barulho algum, nem gente passando pra lá ou pra cá. Pela primeira vez seguiu como se fora dona da ruazinha. Só seguiu. Linda e sua. Mas, o sinal fechou e ela não reparou. A formiguinha mal sabia o que vinha dali, mal sabia o que vinha de qualquer lugar. Seguiu, sem medo e sem saber o que encontraria na perpendicular. Seguiu pela ruazinha. A ruazinha que deu fim à formiguinha. Ninguém levou rosas ou margaridas. Ninguém chorou. Ninguém nem sequer parou pra olhar a formiguinha.

Tuesday, November 28, 2006

Sobre gigantes e cataventos

E tem horas em que um medo estranho toma conta de mim, como se eu fosse pequena demais pra suportar o temporal e saísse voando perdida, feito a folhinha que entrou há pouco pela minha janela. Pequena demais pra lutar contra os cataventos (pois nao ousaria enfrentar os moinhos), pequena demais pra convencer o gigante de que eu não vim incomodar, só vim à procura de abrigo. Horas em que uma dor bem pior que machucado no joelho sufoca o peito e nada faz sarar, nem mesmo todos aqueles remedinhos coloridos que a vovó toma. Mas aí, ele me abraça e sorri.

Thursday, November 23, 2006

- Lara?

No último dia tive a melhor aula do ano todo. Senti saudade de todas as perguntas que não fiz, de todos os dias que faltei, de todos os minutos (horas, talvez) de silêncio em que passei conversando, de todas as canetas que não comprei, de todas as noites em claro estudando que troquei pelo filme que ate virou sessão da tarde. Senti vergonha porque o professor não sabia meu nome, nem eu seu telefone porque nunca liguei pra tirar uma duvida atrasada. Me senti pequena. Imensamente pequena (mesmo que soe contraditório). Tive uma aula de humanidade e não somente um falatório cansativo que os livros sozinhos podem me ensinar (e, talvez, bem melhor). Aprendi o quão compensadora é a sensação de advogar, quando alguém que mal nos conhece nos entrega a vida na expectativa de salvação (e nem sequer somos médicos). Aprendi que por mais que juizes e promotores se gabem com suas profissões, a historia brasileira foi construída (em parte, é claro), sim, por grandes advogados que tinham dentro de si o compromisso humanitário, o qual ninguém pode nos impor, tratando-se de construção pessoal que nenhuma faculdade no mundo é capaz de ensinar. Faz parte da grandeza de poucos e ausente na mesquinhez de outros tantos. Fiz cara feia antes de ir pra muitas aulas e hoje, pela primeira vez, tive vontade de pedir pra que ele ficasse um pouco mais (um pouquinho que fosse). E agora, mesmo sabendo que ele não levou nada de mim, tenho certeza de que deixou muito dele. Obrigada, professor (e me desculpe).

- Presente!

Thursday, November 16, 2006

Flêneur de toi

- Um adjetivo? Observadora. É, observadora. É pra desenvolver?
Observo o tempo todo, tudo, desde o movimento das nuvens à respiração. Gosto de ouvir a respiração. Ninguém disfarça a respiração. Comece a prestar atenção nisso. Gosto de observar o movimento (não me encanta alguém parado, por mais belo que seja). Me encanta o jeito de mexer o café ou de esticar o lençol. O jeito de caminhar ou de agradecer ao garçom. O jeito de assobiar, de cantarolar (mesmo que desafine). Por isso a beleza estática não me atrai. Gosto da beleza que dança, que balança. Observo a maneira delicada de piscar os olhos e até o jeito ríspido de xingar o juiz. É bonita a beleza “desengonçada” se ao tropeçar abrir-se um sorriso envergonhado. Por isso eu observo, pra encontrar a beleza no que passa despercebido. Observo mais o silêncio que as palavras. O silêncio mostra o quanto alguém me faz sentir a vontade, mostra se preciso procurar algo agradável pra preencher o vazio ou se posso só ficar quietinha e me sentir tão bem assim. É bonito o silêncio. Por isso eu observo, enquanto escuto o que só ele pode me contar.

Tuesday, November 07, 2006

Gabriel García Marquez

Sou apegada às coisas antigas, suficientemente velhas pra serem chamadas de antigas.
Ao sair da faculdade, um tanto perdida em meio a buzinas e paredes cinzas de concreto, encontrei um “sebo”, com um montão de livros usados. Entrei e os olhei como se todos me olhassem também (e tive vergonha de alguns, confesso). Talvez eu tenha ruborizado e ate disfarçado com um sorriso no canto dos lábios. Eles estavam lá, maduros, viajados, bem tratados, com tantas historias pra contar que nem me cabe arriscar. Vindos de longe, ou dali do outro lado da rua. Já haviam perdido a pureza de outrora, já tinham marcas do tempo. Quantas mãos de meninos, moços, senhores e senhoras curiosas já os haviam violado, talvez com delicadeza ou com a frieza de quem nada sente, de quem nada arrepia, por mera obrigação. Quantos sorrisos roubaram, quantos suspiros, quantas lagrimas, quanta saudade deixaram. Quantos sonhos criaram, quantas palavras ensinaram, quantas noites acordados debaixo da meia luz. E ali dentre eles, um escolheu-me e eu o trouxe comigo. Enquanto me aproximava da ultima pagina, uma melancolia me tomava inteira, pois sabia que logo ele saberia tudo de mim e eu dele. Logo ele já não me seria interessante, nem eu a ele. Então, findada a ultima frase, o deitei a meu lado pra que conhecesse o que ainda restava mostrar de mim: meus sonhos. Ele me contou uma estória tão triste e tão bonita. Tão pura e tão suja. Tão dele e tão minha.

Monday, October 16, 2006

Sobre o inesperado

Tinha um melhor amigo, o Abajur, mais conhecido como “moço da cabeça quente”. Era ele quem fazia com que ela dormisse sem medo nas noites sem estrelas, de céu escuro. Ele ouvia todas as suas estórias com a mesma cara de “não é comigo”.
Gostava de ouvir o barulho do gelo saindo das forminhas e de ficar olhando a fumacinha que saía do chocolate quente.
Nas tardes de sol, fazia corrida de tatu-bola ou tentava afogar os peixinhos que pescava (é, ela nunca foi muito esperta). Mas um dia, ela acordou e viu que havia crescido. De repente, sentiu que tudo tinha ficado nublado e começou a sentir molhado o seu rosto. Abriu a mao virada pro céu na esperança de sentir alguma gota de chuva. Sentiu cócegas nas bochechas, pelo caminho onde as lágrimas passavam, e assim, mesmo chorando, sorriu.

Thursday, October 05, 2006

Pé na estrada

Adoro estradas. Dão-me uma idéia de novidade. Sei que encontrarei algo novo no fim (talvez até no meio) dela ou - quem sabe - eu serei a novidade depois de percorrê-la. Uma estrada onde eu não possa enxergar o que me espera, mas com a certeza de que terei um abraço apertado quando der vontade de voltar. Uma estrada reta, simples, sem curvas, segura, num lindo dia ensolarado, ou curvas acentuadas debaixo de um temporal. Não importa como. Não importa onde (nem pra onde). As estradas são como passar de fase no meu antigo (muy antigo) Nintendo. Por mais difícil que seja, sei que tem algo me esperando, mesmo que seja apenas uma nova paisagem, um novo sorriso, uma nova velhinha fazendo bolo, uma nova menininha esperando pra brincar comigo. A única diferença é que no videogame a gente descobre truques, a gente tem mais de uma vida, a gente desliga e segue no outro dia, a gente “reseta” – deve ser por isso que ele perde a graça, por poder tentar tudo mais de uma vez.

Sunday, September 24, 2006

Estrela, estrela

- Porque está dentro de mim, faz parte de mim, cresci assim. Acreditei desde quando pequeninha subi na cacunda do meu pai e vi o Lula lá, longe de mim, detrás de uma imensidão de bandeiras vermelhas que carregavam mais que uma estrela, carregavam esperança. Porque as aulas de historia eram umas das que mais me encantavam e sempre admirei a luta da Esquerda nesse país. Porque a cada comício meus olhos enchiam d’água ao olhar para o lado e reconhecer tantos amigos sem nunca tê-los visto antes. Desde lá, eu cantei, colei todos os adesivos que ganhei, chorei, comemorei, votei e voltei pra casa com a consciência tranqüila (e feliz). Porque espero que todos tenham as mesmas oportunidades, que eu não dispute minha vaga na próxima universidade com quem não teve um bom ensino médio, que todos sejam capazes, que se orgulhem por ter conquistado alguma coisa. Porque, tristemente, com um aperto no peito, começo a deixar de acreditar que o meu país possa melhorar enquanto vivermos sob esse sistema movido pelo dinheiro e interesses individuais. Então, enquanto eu votar, enquanto o sistema não mudar, votarei num sonho, o sonho da menininha que nada entendia de política, mas que já sabia sentir. Respondido?

Monday, September 18, 2006

Da noite pro dia

Ao olhar através da janela do quarto, viu nascer um dia branco, feito uma imensa folha de papel, trazendo consigo uma idéia de criança, uma tamanha vontade de escrever no céu. Mas não descobria como o faria. Foi quando surgiram, desordenados, os pássaros. Então, deu a eles o formato que queria, até criar uma única palavra: Saudade. Foi assim, que, pela primeira vez, pôde escrevê-la do tamanho que a sentia.

O avesso

O que aquece é o avesso da roupa
O que ensina é o avesso do livro
O que sacia é o avesso do copo
O que alimenta é o avesso do prato
O avesso
Só o avesso me importa
De nada me vale o lado de fora
Mostra-me o teu lado avesso
Peço-te
Teu lado despido de pudores
Receios e medos
Tuas falhas e teus remendos
Tuas feridas e teus tormentos
Tudo que reside escondido do lado de dentro
Teu oculto
Teu revesso
(E todo o resto)

Na roda gigante

- Posso fazer um pedido? Só um?
- Pode, claro!
- Quero me sentir assim pra sempre...
- Assim como?
- Assim... Desse jeito... Uma vontade de sorrir; uma vontade de mudar o que me incomoda, de pedir desculpas; uma vontade de pedir pra ficar um pouquinho mais; uma vontade de usar todos os meus vestidos (combinando com a bolsinha); uma vontade de apagar todas as luzes e deixar por conta das estrelas; uma vontade de escrever, de fazer música mesmo sem saber; uma vontade de dançar, de contar histórias, e de ouvi-las também; uma vontade de sentir frio pra ficar pertinho; uma vontade ir embora só pra poder voltar e sentir tudo outra vez...

(Silêncio)

- Posso fazer um pedido também?
- Pode!
- Divide comigo?
- Dividir? O quê? O que eu tô sentindo?
- Não, o teu algodão doce!

Sunday, September 17, 2006

Sintonia fina

Sei que uma hora ou outra, cedo ou tarde, vais mudar. Sei que vais mudar. A todo tempo tudo muda. É só um piscar de olhos e está tudo diferente. E não há o que eu possa fazer agora - nem depois – pra que isso não aconteça. Então, tomara que eu mude contigo. E que esses novos "nós" não se desfaçam. Que a minha nova mania não te incomode (e que aquela antiga não te faça falta). Que os teus novos conceitos não me agridam, mesmo que eu discorde deles (o que é bem provável). Que o meu sorriso, agora não mais tímido, te roube um novo também. Que eu não perca o que te agrada, ou, caso ocorra, que mude o teu gosto. Mudemos. Inúmeras vezes. Não importa. A mudança não mais me assusta, desde que mudemos juntos.

Wednesday, September 13, 2006

Sobre conversas e colchetes

Como seria bom se certas cenas, certas conversas, certas frases da vida, pudessem ser postas entre colchetes.
Tem horas em que eu falo e me arrependo; noutras, calo, por faltar coragem pra falar; e há ainda as vezes em que não seguro, não arrependo, mas bem que seria bom se passassem despercebidas ou deixassem apenas aquela dúvida [-será que ela quis dizer isso mesmo?]
Confesso que nunca usei os tais colchetes a nao ser nas equaçoes matemáticas, as quais me causam enjôos só de lembrar, mas tenho um amigo em especial que me deixou curiosa desde a primeira vez em que os escreveu [e claro que havia muito conteúdo dentro deles - e dele]. Então, parei pra analisar que muitas vezes, o que estava ali dentro dizia muito mais que o resto todo, mas se fosse dito assim, sem uma "bossinha", passaria ou causaria um efeito desprepositado por deixar as palavras assim, desprotegidas. Talvez seja isso. Proteçao. [E quem nao precisa?]

Wednesday, September 06, 2006

Um verso óbvio num lugar impróprio

Deitada na rede
(- O empregador deve pagar com eventual diferença)
Barulho do mar
(- Por uma questão de alçada)
Chega sem avisar
(- E até por uma questão de rito a ser adotado)
E, ao passar, acaricia
(- Há uma definição na CLT)
Mesmo sem tocar
(- Do que seja força maior)
Não fica, não cabe ficar
(- O caso fortuito seria só uma imprevisibilidade)
A brisa
(- Percebam que o acontecimento não foi possível evitar)
Então passa
(- A doutrina cita dois fatos)
Só passa
(- O incêndio e a inundação)
A brisa leve
(- Nem sempre é tão tranqüilo)
Tomara voltar
(- Com relação às questões de segurança)
Em breve
(Compreende?)

Tuesday, September 05, 2006

Sobre o gostar

- Cada um tem seu gosto! - disse.

- (Como pode? Uns tão azedos e outros tão doces...) - pensei.

Saturday, September 02, 2006

Na livraria

A todo tempo as pessoas estão se encontrando. Encontros combinados ou ao acaso. No supermercado, na escola, no trabalho ou no sinal fechado.
Mas, acredito que os grandes (falsos) cupidos sejam os bares, na sexta, sábado ou véspera de feriado. Então, ele se aproxima meio sem jeito. Ela, bem maquiada, a roupa bem combinada e o cabelo vindo diretamente da propaganda de xampu (de tão bonito). Talvez por saber fazê-la sorrir, ele ganha espaço e trocam algumas idéias sobre o lugar (ou sobre o mundo lá fora). Então, por algum motivo, ela pára pra pensar que ali, naquela noite, todos parecem muito propícios a aproximações. É mais fácil, é mais aceitável, é mais óbvio que na padaria. Pra ela, é fácil parecer bonita à noite. Pra ele, é fácil parecer extrovertido depois de algumas bebidas.
Quem sabe, um dia, numa livraria, sem maquiagem, cabelo preso e calça de abrigo, eu receba um buquê de lápis (criativo, não?!) pra escrever sobre tudo que me provoca. Então, eu caso - juro! - sem parar pra pensar nem um minuto (ou, talvez, só o tempo de um suspiro).

Thursday, August 31, 2006

Sobre o involuntário

Lhe cai tão bem esse cabelo mal cortado
Essa calça desbotada
Esse sorriso envergonhado
Só nao lhe cai bem essa distância de mim...

Tuesday, August 29, 2006

Eu sou neguinha

Nunca entendi esse termo “racismo” (ao menos aqui, no Brasil). Primeiro, porque esquecem que existem outras raças que não os brancos e negros. Segundo, porque parece que só os negros o sentem na pele (literalmente). E, principalmente, depois de tantos anos de mesclas não há que se falar em raças "puras".
É muita estupidez proibir a entrada do negro no restaurante francês no meio de Copacabana (e a idéia aqui não é discutir a origem histórica disso, mas sim a sua inaplicabilidade).
O Brasil é uma mistura fina desde a música, cinema, literatura, moda, teatro, culinária ou pintura.
Racismo é pra outra época, quando, talvez, ainda fosse possível distingüir raça alguma.
Eu sou negra, branca, índia, ariana, amarela e tudo mais que eu puder ser (ou do que quiseres me denominar).
Quem dera eu ter pele de índia, cabelo de japa e bunda de mulata.
Triste daquele que tem só uma influência, uma origem, pois se torna tão igual ao que já existe.

Monday, August 28, 2006

O carteiro e o poeta

Serei carteiro. Não levo jeito pra essa vida de estudante de Direito. Não me atraem os livros doutrinários, nem a jurisprudência do STF (tão frios e sem poesia).
Cansam-me as aulas que mais parecem missa de sétimo dia (ateia, prazer).
Seria ousadia demais dizer que quero ser poeta. Então, que seja carteiro! Que eu leve poemas por aí, que eu reconcilie, que eu leve desculpas, que eu mate a saudade, que eu leve rimas bonitas, simples ou rebuscadas. Que eu leve palavras bem combinadas, que esperem à porta minha chegada. Então, assim, eu conhecerei a tua rua, teus vizinhos, e todas as manhãs passarei por ti e te desejarei “Bom dia”.

Sunday, August 27, 2006

4 esquinas

Quem dera te fazer lembrar de mim depois de dobrar a esquina.
Quem dera...
Se fores me esquecer, peço um favor: não dobra, vai?!
Se ainda insistir, que sejam 4!
E então te espero lá, outra vez, quiçá...

Monday, August 21, 2006

Saudade

Como eu tenho saudade... Saudade aquela forte que aperta o peito e molha os olhos.
Eu, pequena, olho estalado, sorriso fácil, ouvindo meu pai cantando as lindas musicas do Chico. As longas viagens no banco do meio do carro, mesmo que durassem 5 minutos. Minha irmã, perfeitinha feito boneca, com cheirinho de talco. O motorista da minha mãe buscando-a na frente de casa (é, motorista! Chic, não?!). E eu me despedindo vendo-a sair sempre linda e perfumada. As longas conversas com minha amiga imaginária. Os olhos do meu avô (os mais impressionantes que já vi) sempre acompanhados de um abraço apertado e balinhas de mel. Os papéis de carta que colecionei e nunca enviei. Preciso parar por aqui antes que duas ou dez lagrimas resolvam me visitar.
Mas tenho saudade do que não vivi e isso me encasqueta!
Tenho saudade dos tempos de guri do meu pai... Onde eu não era nem um projeto. Como queria tê-lo visto. O primeiro olhar trocado com minha mãe! Nossa! Daria o dedo mindinho pra estar ali, na condição de espectadora mesmo. Como num filme, onde eles seriam as personagens principais e o cenário todo fosse feito pra eles, pra contar a historia deles.
O rosto da minha mãe ao me ver nascer. Tudo bem, tirando o suor e o cansaço, aposto que ganhei um sorriso. Lindo! Quanta saudade...
Tenho saudade dos encontros de poetas e escritores, onde bebiam uísque, fumavam cigarros e cantavam. Exagero, não! Saudade mesmo! Dez minutinhos debaixo da mesa ouvindo Chico, Vinicius e Tom. Saudade de compor uma musica onde a censura pouco permitia e mesmo assim muito se dizia. Haja sabedoria! “Apesar de você”, “Meu caro amigo”, eu sigo afirmando! Como eu tenho saudade!
Antiquário! Ai de quem me acompanhe com pressa e passe por um antiquário: Parada Obrigatória! Não fosse a beleza de tudo que é “velho”, me encanta que cada objeto dali traz consigo um livro apensado. Quanta historia! E sinto saudade da velhinha que outrora fazia tricô naquela cadeira de balanço.



“No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...”
(Roda Viva – Chico Buarque)

Friday, August 11, 2006

O meu guri

Queria escrever algo simples e bonito, assim como o teu assobio de todos os dias (que eu gosto tanto de ouvir).
Obrigada por tantas coisas ensinadas (mesmo que nem todas aprendidas). Obrigada pelas músicas, pelas aulas de história, pela paciência, pela saudade que sabes fazer sentir de ti.
Obrigada por me desculpar, por me aceitar, por me abraçar teus abraços escassos, mas sinceros.
Como diz a música do Chico que cantavas pra mim, és a minha Fera, com tórax de Superman e coração de poeta, e eu a tua eterna Bailarina no nosso Circo Místico, só nosso.
Mais que meu pai, sempre fostes meu amigo e amigo dos meus amigos, o que te faz ser tão diferente.
Tomara te dar um montão de netos, pra que cada um deles tenha um pouquinho de ti, assim como eu herdei o teu nariz e tua teimosia, teu bom humor e tua alegria.
Obrigada por fazer minha mãe tão feliz e por me fazer te amar assim (mesmo tendo, por vezes, vontade de te mandar pr’aquele lugar).
És o meu velho malandro, que nunca deixou de ser guri, o meu guri.
Feliz aniversário, pai.

Roda Mundo

Outro dia ouvi uma música que chama “Nosso Mundo”, música essa que fala sobre voltar no tempo (pra “consertar” o passado).
Eis que parei pra pensar no assunto e vi que de nada adiantaria. Talvez pudesse mesmo consertar algumas coisas (talvez tivesse falado mais numas horas, menos outras, mandado mais cartas, dado mais abraços, ido embora, ficado mais um tantinho, aceitaria, voltaria correndo pra casa, teria me desculpado, teria mostrado um dedo bem feio), mas sem duvida, erraria noutras (quiçá, nos próprios acertos que consegui). Alem do mais, provavelmente não teria conhecido as pessoas que conheci, nem me tornado a guria que me tornei. Os sorrisos, suspiros e lágrimas me esculpiram assim. Talvez agora estivesse longe daqui, ou logo ali, triste, pensando em como seria bom se tivesse feito diferente, como seria bom se pudesse apenas pegar um papel e uma caneta e escrever sobre meu dia, e só com isso já sentir bem comigo mesma (como agora).
Os erros são inevitáveis e nem sempre os consertos valem a pena. Talvez seja melhor parar de se punir, de se arrepender, de se fechar pra tanta coisa bonita que acontece todo dia, ao invés de perder tempo pensando em como seria bom se tivéssemos feito diferente. Se fosse diferente, a gente não estaria aqui dividindo essas palavras.

Tuesday, August 01, 2006

Teu brinquedo de star

Queria te star aqui
Me star
Star em ti ou em mim
Só queria star... contigo

Sunday, July 30, 2006

O carnaval

Tanto confete e serpentina
Tantas danças de menina
Tantas máscaras e fantasias
Tantos risos soltos e passos trôpegos
Tanta alegria e poesia
Pra quando o carnaval chegar...

“Deixa chegar o sonho
Prepara uma avenida
Que a gente vai passar...” (Marcelo Camelo)

Outros sonhos

Tenho um tanto de receio de conhecer meus ídolos (não gosto muito dessa palavra, mas não encontrei outra que passasse a mesma idéia). Acredito que seja medo de me decepcionar, medo de ver desmoronar o que eu tanto aprecio, o que tanto me alegra, me amolece, me adoça ou me instiga. Por isso, prefiro que fiquem assim, longe de mim, sem defeitos ou desilusões. Eu sigo aqui, admirando, e eles lá, me provocando (mesmo sem saber). Mas isso tem acontecido com pessoas “mundanas”, do meu dia-a-dia. Prefiro te conhecer assim, esse pouquinho, esse pedacinho que me encanta, desarma ou apaixona. E te guardo desse jeitinho, com o que me faz bem. Porém, como algo inatingível (mesmo que do meu lado).
Ou talvez tudo isso seja uma grande mentira, e o meu maior medo seja a tua desilusão e não a minha.

"Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias..." (Chico Buarque)

Friday, July 28, 2006

Mundo doido esse

Um beijo no rosto
Um simples beijo no rosto
Mais íntimo que tantos outros
Na boca, peitos e coxas
Mundo doido esse

Thursday, July 20, 2006

Sobre pés e medos


- Tenho medo...

- Medo? De quê? Por quê? Eu tô aqui do teu lado e sou de verdade. Se o teu medo for de gostar de mim, é bobagem. Mas se for de que eu goste de ti, já é tarde.

Sunday, July 16, 2006

PALHAÇO, POR QUÊ?

Teatro. Sábado e domingo fui ao teatro. Nos dois dias assiti à mesma peça. E valeu a pena, muito a pena. PALHAÇO, POR QUÊ? Grupo de Brasília. Apaixonante. E ainda, como que de presente, Los Hermanos na trilha sonora. A peça tratava do cotidiano do palhaço, do mau uso da mídia, do mundo esquematizado e engravatado, da arte como produto de venda, da inocência, da alma, da vontade de mudança, das relações de interesse, da traição, da vida.
No começo do espetaculo percebi como as crianças são mais receptivas e como os adultos são medrosos (e ainda insitem em assustar as crianças com o tal do Bicho-papão - coitados...)
Os adultos têm medo de rir alto de mais, de não entender a piada, de se deparar com si mesmo em cena, de parecer tolos. Talvez a explicação esteja na frase lá de cima. Defesa. Por isso as relações entre adultos são tão complicadas. Por isso existem os artistas, pra que encontrem o ponto onde não há defesa e assim, os amoleçam, para que se desarmem e para que deixem de ter medo.

A cor das paredes

Mudei meu quarto de lugar, ou melhor, mudei os móveis de lugar. Troquei o lugar das roupas no armário, inverti a ordem das gavetas de meias, calcinhas e companhia. Tive vontade de pintar as velhas paredes azuis, talvez de vermelho, verde, ou branco mesmo. Encontrei uns bilhetinhos de tempos atras que me roubaram um ou dois sorrisos. Tirei o pó das revistas, dos livros e do velho porta-jóias. Depois de tudo arrumado, parei na porta do quarto. E, pra minha tristeza, percebi que estava tudo igual. Porque a minha vontade de mudança ia muito além dali, muito além da minha casa, muito além da minha velha cidade úmida. Mas a gente sempre faz assim. Disfarça, desconta, finge que fez o que queria. Mas, não. Na maior parte das vezes, a gente quer muito mais. Muito mais que a cor das paredes, muito mais que mudar as telhas quebradas, muito mais que o endereço novo. A gente quer um mundo novo. E quando falo em mudar de mundo, não se trata de nenhuma visita a outra galáxia, mas sim, o meu mundo. O que eu vejo, o que eu destruo, o que eu construo, o que espera algo de mim a todo segundo. Talvez o que eu mais queira agora seja um “não saber”. Não saber quem eu vou encontrar no caminho do teatro, não saber que rua me espera ao dobrar a esquina, não saber se cumprimento porque ainda não conheço (e entao eu venço a minha vergonha, estendo a mao e dou beijo), não saber o que te faz sorrir (e entao eu usaria toda a minha criatividade para que visse um, um pequeno pedacinho do teu sorriso). Mas não. Eu sei quem eu vou encontrar, eu sei qual a rua que me espera e quais as velhas arvores estao la, eu sei o que te faz sorrir e ate o que te faz chorar, eu te cumprimento, porque a gente se conhece há tanto tempo. Por isso eu mudei meu quarto, esperando que mudasse alguma coisa.

Monday, July 10, 2006

Profissão: Garimpeira

Cheguei da faculdade toda me rindo. Acho que fui bem numa prova e isso não faz parte da minha rotina acadêmica. Sempre fui aquela aluna que parece que em todas as aulas está chegando de uma longa viagem (de lá do outro lado do Oceano Atlântico). Sentei na sala de casa, de frente pra lareira, quando um brilho intenso e apaixonante me chamou a atenção. Era um velhinho garimpeiro mostrando na televisão dois diamantes que guardava dentro da casinha de barro que sei lá eu como podia parar de pé. Contraste. Pr’aquele velhinho o que mais importava não eram os diamantes, mas sim a satisfação, a emoção, o orgulho de ter encontrado aquelas duas pedrinhas pela primeira vez. As podia ter trocado por alguma quantia em dinheiro (que não seria pouca). Mas, não. As guardava feito a mãe que guarda os primeiros dentes de leite do filho, ou a menina que guarda o primeiro versinho ou carta de amor.
Gostei disso. Garimpeira. Talvez nunca encontre um diamante verdadeiro (pra não dizer “com certeza”). Mas seguirei garimpando sorrisos e amigos. E talvez, dentre eles, eu encontre uma pedrinha tão brilhante que a faça ser diferente das outras, uma pedrinha pra chamar de “meu amor”.

Sunday, July 09, 2006

Versinho de criança

Ela veio de mansinho, quase que escondida.
Bem vinda, dona Felicidade. Entre e fique pro resto da minha vida.

Saturday, July 08, 2006

Havia uma beleza ali?

Sou míope. Isso não é nenhuma novidade pra quem me conhece um pouquinho. O caso é tão grave que minha querida irmã me apelidou de “Garrafinha” dada a delicada espessura dos meus óculos. Não enxergo nada mesmo, tudo parece um desenho borrado. Mas, felizmente, a tecnologia me deu a alegria de poder ver a beleza das coisas que me cercam.
Porem, tem algo aqui dentro de mim que enxerga a mais (ou talvez a menos mesmo) e que, por isso, consegue captar belezas que parecem ser vistas só por mim.
Acho lindo ouvir alguém chamando a mãe de “mamãe” ou a avó de “vovó”. Lindo quando alguém deixa escapar um sorriso envergonhado, ou quando chora de emoção. Lindo quando alguem dá um abraço apertado ou quando encosta a mão. Lindo quando no meio da bagunça se encontra um bilhetinho amassado cheio de recordação. Lindo quando as lembranças me fazem sorrir sozinha. Lindo ver amigos jogando conversa fora (e como eu gosto disso). Lindo quando alguém elogia sem segunda intenção. Lindo ver quem eu gosto acordando de manha com os olhos pequeninhos e cabelo bagunçado. Lindo quando meu pai beija minha mãe. Lindo ouvir LOS HERMANOS (e lindo o Marcelo Camelo também). Lindo gostar de criança e mais lindo ainda, saber ser criança. Lindo terminar um livro e querer ler de novo de tão bom. Lindo receber uma cartinha à mão e feio, muito feio, depender de televisão.

“Havia uma beleza ali, ou era criatividade minha?” (Vanessa da Mata)

Horizonte distante

Critico os viciados em televisão. Sempre critiquei. Me incomoda quando as pessoas se juntam numa sala pra ficar olhando pra TV ao invés de conversar, com tanto assunto nesse mundo. Mas confesso que adoro assistir antes de dormir. Um dos meus programas favoritos chama SEMPRE UM PAPO, onde são entrevistados convidados, no mínimo, interessantes. Esta noite assisti à Fernanda Young, sobre a qual já havia ouvido falar uma coisa, ou duas. Arrogante, achei. Mas inteligente e provocadora. E em meio a comentários, poemas e frases, surgiu esta: “qualquer coisa que a gente anseia está sujeita à decepção”. Me identifiquei com ela e sempre que a gente se identifica, por mais que surja como um susto, quase um tapa no rosto, afaga. Afaga porque sentimos que não estamos sozinhos, que não é só um pensamento sem par. Talvez seja comodismo, mas concordo e acredito. As pessoas esperam, esperam, esperam e anseiam. E nessa ansiedade criam expectativas. E todas as vezes em que criei expectativas, sofri, desde uma nota na prova, o menino que não me tirou pra dançar (para o qual escolhi a melhor roupa e passei horas diante do espelho), o abraço esperado que restava em outros braços, a grana do fim do mês que veio atrasada, a coragem que me abandonou quando eu mais precisava, o presente de aniversario que ficou para o ano que vem. Nossa! Que guria frustrada! Não é isso, não. Só aprendi a não esperar. Não esperar dos outros, assim como não gostaria que esperassem de mim. Porque assim, quando eu te abraçar, um abraço inesperado, ele valerá por mil abraços. Mas se tu o esperas, posso te decepcionar, talvez ele te pareça menos confortante (ou confortável).
Bem-vindos os criativos, surpreendentes, quiçá imprevisíveis, porque sabem ir alem das nossas expectativas.

Uma caixinha, minha caixinha

Eis que numa caixinha de lembranças encontro esse versinho que um dia escrevi...

Índia

Daria o dedo mindinho pra ver novamente teu tão sorridente olhar de menino.
Sinto saudade de cada beijo salgado, abraço apertado que trazias aqui.
Converso com a lua e com as estrelas, algumas cadentes e outras carentes assim como eu na ausência tua. E então, segurando meu pranto, vejo que te perdi errando e meio cantarolando tento sorrir chorando.
Tuas palavras, teu cheiro, teu toque, mesmo que não mais te importe, ainda vivem aqui. Talvez de avião ou ate de reboque deixem esse coração que chorando pede por ti.
Talvez vá ate a Índia. Talvez por lá eu te esqueça. Talvez por lá adormeça o amor que um dia vivi. Espero que isso aconteça antes que o dia amanheça, antes que o sol apareça, antes que eu lembre de ti.

É, mocinha...

Assisti ao documentário chamado “Nascidos em Bordéis”. Tratava da vida de meninos e meninas nascidos no bairro da Luz Vermelha, em Calcutá, dentro de bordéis onde suas mães eram prostitutas. Foi dada para cada um deles uma câmera para que retratassem as suas visões daquela realidade. As fotos eram impressionantes. Lindas. E mais bonitas ainda que as fotos eram as explicações pra cada uma delas (como um menino que disse que a cor da pele da moça retradada estava da cor do céu e então era como se ela fizesse parte dele). Alguns trabalhos humanitários tentam transformar as crianças em artistas, mas nesse filme, as fotos são mostradas porque têm qualidade e, principalmente, sensibilidade. Fiquei apaixonada pelas crianças, pelas fotos, pelos documentaristas, pela idéia, por fotografia.
- Mãe, quero fazer fotografia!
- Faz, minha filha! Tu tens sensibilidade, vais te dar bem!
Mas aí eu penso em tudo que eu já quis fazer: espanhol, literatura, voltar às minhas aulas de teatro que eu gosto tanto, aprender a dançar tango, escrever um livro (de bolso, bem pequeninho), aprender a tocar violão (e poupar meus amigos das 5 ou 6 musicas do meu repertório), aprender a degustar vinhos, a costurar, a pintar.
Mas dormir me dá um sono... E já acordo querendo me deitar!
É, mocinha... O tempo tá passando (o famoso crocodilo Tic-Tac).
Não eras tu quem dizia que todo mundo pode ser o que quiser?
É esse o filme da tua vida?

Sobre cobertores e caramujos

Chegaram os dias de frio. Dias em que cobertores mais pesam que aquecem.
Quando deito e eles me abraçam ganho um espaço só meu. E fico ali, no escuro, acompanhada dos meus sonhos e pensamentos. Ouvindo os barulhos da rua e os daqui de dentro, de dentro do meu caramujo. Minha mãe não entende porque essa menina dorme tanto. Mas ela não dorme, mãe. Ela fica ali acordada, sonhando. Sonhando com o dia em que não mais precisará do caramujo e voará com as borboletas.

Corre-corre

Cada dia me "conformo" mais com a idéa de que nasci na época errada. Sinto como se acabasse de acordar de um porre de vinho tinto (doce e barato) e me jogassem em meio a uma corrida de São Silvestre. Todo mundo correndo pro mesmo lado, uns cansados e outros cheios de vontade e suor. E eu ali, sem entender pra que tanta pressa. Sentem, pessoal. Está me deixando tonta essa correria toda.
Tudo ficou rápido e descartável: pratos, talheres, amantes e amigos. E a todo momento ouvimos alguém falar sobre chegar lá. Lá? Onde? Não importa (e acho que ninguém mesmo o sabe). O que vale é correr, depressa, sem parar pra olhar um sol se pôr ou um sol nascer. Sem parar pra escutar uma música bonita, sem parar pra escrever uma carta e pôr no correio.
Um diploma só traz uma vantagem: cela especial. De resto, meu amigo, é tudo igual.

1, 2, 3, ativar!

As pessoas estão sempre se protegendo.
Se protegem por medo, por orgulho, por vergonha ou por covardia mesmo. E pelo que tenho visto, o escudo mais usado no momento é “Parecer Feliz”. Acham que assim ficam menos vulneráveis, inabaláveis. Quantas vezes ela dança feito doida (um mix de Beyonce e Seiláoque) quando o que ela mais queria era sair correndo da festa e deitar do lado da mamãe ou ligar pra “ele” e pedir um abraço apertado. Mas como? Se eu estiver triste, vão me achar fraca, vão sentir pena de mim (e há ate quem vá salivar de tanta água na boca por me ver assim). Então, 1, 2, 3, ativar! Hora de Parecer Feliz! Orkut, Blog, Fotolog então... Eu chego a rir sozinha aqui. Nunca vi tantos sorrisos amarelos e frases usadas feito munição.
Mais uma vez eu repito! Eu não sou desse mundo! Eu fico triste! E choro! E não me importo com quem quer que seja quando isso acontece. Parece que quando a gente chora todas aquelas armaduras vão caindo... Mas não as vejo frias e duras... São como pétalas. Vão caindo uma a uma, devagar, leves e bonitas. É quando a gente fica mais despida (mesmo que estejamos vestindo botas, calça jeans, casaco e cachecol). E o que sobra é o que temos de mais puro. Verdadeiro.
As pessoas andam cada dia mais expostas fisicamente e mais escondidas sentimentalmente.
Então eu me protejo de ti enquanto tu te proteges de mim. Praticamente inimigos, não?! E a gente se vê todo dia. E mal se conhece...

Por que as meias nao podem trocar de par?

Na beirada da cama tinha uma meia. Só uma meia. Tadinha dela, não via a hora de ser inteira.
- Desculpa, viu?! Mas prometo que amanha encontro teu par. Ficou tristinha, ne?! Ah, fica não... Agora preciso dormir. Posso apagar a luz? Tá bom! Descansa. Ele vai voltar...

(silêncio)

- Ei, já dormiu?
É que fiquei pensando e preciso te contar. Por que as meias não podem trocar de par? Que mania que essa gente tem! “O príncipe e a princesa”, “o rei e a rainha”, “a meia cinza com a meia cinza”. Tudo combinadinho! Tudo pré-estabelecido! A princesa que fique com o bobo da corte (aposto que ele é bem mais divertido que o príncipe de cabelo lambido). E tu, bem que podias encontrar outro par mais colorido pra dar uma animada nessa tua cor acinzentada. Nunca encontrasse um par perdido na maquina de lavar? Hmmm... Aposto que por aí tem algum escondido louco pra te namorar! Deixa que amanha dou uma de cupido e levo vocês pra passear (e quem sabe, de lambuja, encontro meu par de all star)!

Minha caneca preferida

Talvez seja só um mal estar. Daqui a pouco levanto, bebo um pouco d’água na minha caneca preferida e logo passa. Mas tenho medo de levantar, tenho medo de não passar. Porque agora dói, está difícil respirar. Segurei minhas lágrimas pra que não fossem embora e eu restasse aqui sozinha. Fiquem, por favor. A casa é simples, mas é tudo que eu tenho a oferecer. Não me deixem com meus pés gelados diante dessa tela fria. Alem do mais, se forem agora, talvez eu não mais as encontre e estou cansada de sentir saudade.

Sobre versos e tons pastéis

Andei desgostando de mim. Muito. Não só pelos quilos a mais e pela cor desbotada, mas, principalmente, pela minha incompetência, pela minha mediocridade. Nunca fui de disputar os primeiros lugares em qualquer coisa que fosse, mas me vi na ultima fila e isso causou ferida. Não decidia se ficava ou se ia. Pra onde? Nem eu sabia.
Então, ontem, recebi uma noticia tão boa que achei que nem merecia. Passei no teste pra fazer minha primeira peça de teatro. Não fosse a alegria de conseguir, trata-se de uma peça infantil (o que eu mais queria nessa vida). Ah, as crianças... Uma mistura de pureza e magia. Ainda não entendi por que temos que virar “gente grande”, que aprender a mentir, a ser mais realistas, mais responsáveis e a usar tons pastéis (todo adulto adora “tons pastéis”).
Um dia ouvi essa frase de um amigo: “a tua vida é uma poesia, né, Lara?!” Achei tão bonito... Talvez seja isso mesmo. Talvez minha vida não seja dividida em dias, mas em versos. E, como toda poesia, não é feita só de alegrias. Além do mais, toda tristeza tem sua beleza. Divido com quem me quer bem esse dia bonito, esse verso bonito.
Agora preciso dormir, esperando, ansiosa, o verso de amanhã.

Las hermanas

Ela fica brava com quase nada. Como se não bastasse ser linda e inteligente, é sensível e criativa. Desenha, escreve e se veste feito gente grande. Mas, pra mim, será sempre a minha guriazinha.
Rimos, choramos, brigamos e nos abraçamos em frações de segundo.
A amo tanto, tanto, tanto, que de ficar longe me dói o peito. A quero sempre perto, mesmo que seja pra dizer que tô mal arrumada, mal humorada ou mal amada mesmo. Porque eu gosto dela assim, com esse jeitinho brabinho.
Ela é um pedacinho de mim. Uma guria apaixonante.
Me desculpa, maninha, pelas vezes em que te fiz chorar (e te desculpo pelas lagrimas que derramei também). Às vezes quero corrigir em ti os erros que cometi. E sei que não meço muito minhas palavras. E por mais que eu fique distante, sempre, sempre mesmo, estarei esperando aquele teu abraço, que de tão bom, de tão amigo, me faz esquecer o que me incomodava ou deixava tristinha.
Não deixa de lado a idéia do livro ilustrado! A parceria das irmãs Collares, tá?!
Não esquece de quando a gente jogava Mico de calça de abrigo no meio da sala, das nossas primeiras musicas no violão que acabaram sendo as únicas, das batatas fritas que a gente sempre comia no clube, de quando a gente fazia café da manha na cama pra mãe e pro pai e de quando tu me ajudavas a fugir de casa de madrugada. Não esquece que um dos dias mais felizes pra mim, foi o primeiro dia em que te fiz dormir no meu colo. E eu te olhava ali, deitadinha e me sentia tão grande e tão feliz que mal cabia em mim. E não te preocupa que apesar do meu cabelo estar mais comprido (o que te incomoda, que eu sei) o teu é muito mais bonito!
Eu só queria que essas palavras, mesmo que obvias, conseguissem te dizer um pouquinho do que eu sinto por ti. Nós somos as fadinhas do lustre do castelo, lembra?! Pra sempre! Mesmo depois de velhinhas! É só fechar os olhos e imaginar! Eu te amo, Neneca! FELIZ ANIVERSARIO!

Dia dos namorados?

Dia de ganhar presente, de jantar fora, de dizer “eu te amo”, de pedir desculpas, de encher de beijos, abraços e suor. Dia de começo, de recomeço, de dar uma nova chance, de matar a saudade.
Hoje, o meu dia dos namorados será um dia de agradecimento. Não tenho um namorado pra fazer uma caixinha com fitinha mimosa cheia de coisinhas bonitinhas, nem pra levar café na cama ou passear no sol de mãos dadas. Então, agradeço. Agradeço pelas vezes em que me senti a mulher mais feliz do mundo e nos quais a felicidade era tanta, eu brilhava tanto, que ate minha vista ficava ofuscada e eu mal enxergava o resto do mundo, por mais clichê que pareça.
Não sei ainda se acho uma boa essa idéia de ter um “dia dos namorados”. Acho que, com isso, as pessoas ficam um tanto “relaxadas”. Concentram tudo que deveriam fazer durante o ano todo num dia só. É o dia de mandar flores, cartões e tudo mais que já disse ali em cima. Não precisa um cartão bonito, pode ser uma folha de caderno na saída da faculdade. Um bilhetinho, bem pequeninho. Nem um buquê, pode ser uma florzinha roubada do jardim do vizinho. A gente vai esquecendo, deixando de lado, pra amanha, e quando vê, o tempo passou e a paixão esfriou. E só resta arrependimento.
Pra mim, dia dos namorados é todos os dias. Assim como dia das mães ou dos pais. Faço o que posso (e o que minha criatividade alcança). Sou preguiçosa pra muita coisa, mas nunca pra agradar o meu amor. Então, levanta daí, sai desse computador e vai agradar o teu!

“Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis
Por isso para o seu bem
Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem”
(Deixe a menina / Chico Buarque)

A nossa música

Gosto muito de música. Pra tomar banho, pra dançar, pra namorar, pra cozinhar, pra arrumar meu quarto, pra beber, pra passear de carro, pra cantar, pra relembrar, pra me maquiar, pra tomar banho de sol, pra ficar olhando "pro nada", pra fazer as unhas, ou como diz Arnaldo Antunes, “música para ouvir” mesmo. Adoro conhecer músicas novas (não que sejam composições novas, mas novas pra mim) e, se possível, que não seja na rádio e muito menos na novela. A novela tem o dom de enfeiar a musica e/ou rotular o artista. Até Maria Rita “ficou feia” depois da novela. Vanessa da mata (= “Ah, a guria do ai ai ai ai ai ai”). Não! Ela tem músicas lindas! Mas ninguém mais agüenta o ai ai ai ai ai dela e acaba por nem se interessar pelo resto. Por quê? Radio e novela (quando não aparece no Faustão ou no carro rebaixado e tunado que faz tremer a janela da minha casa)! É óbvio que qualquer banda nova sonha em ter uma musiquinha na radio, mas convenhamos: como é bom quando um amigo nos apresenta uma banda “desconhecida” ou uma musica “das antigas” MUITO BEM letrada! E sempre tem um terceiro pra dizer: “Ai, vocês e essas musicas que só vocês conhecem!”. Ora, meu amigo! Coisa boa! Podemos dividi-la! E então ela começa a fazer parte de vocês, lembra vocês. Se por acaso, numa outra cidade, num boteco (cujo proprietário tem um bom gosto musical) ela toca, baixinha, quase que escondida, vocês silenciam e abrem um sorriso lindo: “A nossa musica!” E aí, um dia, sabe-se lá por quê, ela entra na trilha da novela e toca na radio toda hora. Como eu fico triste... Triste e braba! Porque sei que em alguns dias vou tá dizendo: “Essa música ficou feia, né?!”

Pirata Perdido

Festa à fantasia da minha turma.
Vesti a fantasia e lembrei de uma avaliação do teatro onde era pra contar a estória da personagem.
Então, cá estou eu: Pirata.
Vim de longe e ainda não encontrei o meu lugar (se é que existe). Não procuro, nem roubo ouro ou tesouros. Vim em busca de sorrisos, amores e amigos. Não tenho navio, dente de ouro ou faca no cinto. Minha bandeira não traz caveira alguma estampada. É branca, para que nela eu possa escrever minhas historias.
Não me apetece o rum, prefiro um bom uísque ou algumas cervejas. Tenho pernas compridas e finas (quase de pau), não tenho olho de vidro (só lentes de contato), nem cara de “mau”.
Dos mares por onde andei trago muita saudade comigo. Saudade de quem talvez nem lembre desse pirata perdido. Senti dor, senti frio e senti medo. Mas aprendei muito com o tempo. O tempo que me curou, me provocou, me transformou. Hoje, ainda sem rumo, navego com a maré, que me leva ao desconhecido, ao novo e (por vezes) de volta ao velho. Ao velho pirata que não passa de uma criança. Uma criança que sonha um dia em ser pirata.

A casa é sua, pode morar

Voltei às minhas aulas de teatro!
Voltei pra me encher de criatividade e poesia. Quem dera um dia poder transformá-las em um pozinho (como a Sininho e o pó do pirimplimplim) pra poder jogar lá do alto e ver cair um pouquinho nesse mundo gelado.
Fiquei feliz comigo por retomar o que tinha deixado de lado. Sempre é tempo. Sempre!
Aquela cartinha que foi escrita e ficou na gaveta, envia.
O poema que não teve fim, finda.
O telefonema que ficou pra outro dia, liga.
A gente perde de estar feliz procurando o pote de ouro! E não percebe que no trajeto tem um lindo arco-íris.
Quem faz a peça ser boa, sao as personagens, quem faz a vida ser boa, somos nós. De nada adiantaria um bom cenário, um bom texto, um bom diretor, sem um bom elenco.


“Da felicidade

Quantas vezes a gente, em busca de aventura
Procede tal e qual o avozinho infeliz
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz” (Mario Quintana)

O tempo leva

O tempo pode ser um santo remédio. Cura desde o resfriado, ao coração dilacerado de um amante abandonado.
Só não entendo por que ele anda sempre na velocidade errada. Quando tem que passar de pressa, se demora. E quando quero que pare, ele logo vai embora.
O tempo devia passar na proporção inversa da felicidade. Assim, quanto mais felizes, menos passaria, ficaria lentinho, pra fazer durar. E na tristeza, voando, pra não dar tempo de chorar.

Para saber a resposta, vide o verso

Ao responder a um email desses em massa, uma grande amiga disse que meu maior defeito era ser “enigmática”. Fiquei olhando pra tela do computador como se ele fosse me dar maiores explicações, tendo em vista a minha ausência momentânea de raciocínio lógico que não me deixava entender o que ela queria dizer com essa palavra. Ora, “enigmática”, Larinha, no mínimo tem a ver com enigma. Pois é, mas na hora nem nisso eu pensei. Acabei perguntando pra outra amiga que me deu a seguinte explicação: - Ah, tu és praticamente um ponto de interrogação!
Tive que rir. Mas confesso que não concordo plenamente, não. Ok, eu sou chatinha mesmo, difícil de lidar, tudo me afeta e já entro no meu caramujo. Mas enigmática?! Será?!
Gostei da idéia do ponto de interrogação (mas claro que dei a ela o sentido que bem entendi). Perguntar. Falar. Escutar. Argumentar. Se não há pergunta, não há resposta. A interrogação é que faz toda a dialética funcionar. Gosto de saber “qual o quê dos quais e poréns dos afins”.
Tristes os conformados, os desprovidos de curiosidade, os envergonhados, que nada perguntam. Se não quiseres me responder, tudo bem! Mas eu pergunto! E sempre vem alguma resposta de volta (mesmo que em silêncio). Um sorrisinho, um desvio de olhar, uma fúria súbita que chega a assustar, um par de sobrancelhas caídas, um beicinho, bochechas vermelhas, uma mexida no cabelo ou ate mesmo uma brusca mudança de assunto.
E pensando bem, antes um ponto de interrogação, instigador e cheio de curvas, a um de exclamação, sem graça e que nada estimula.

Sobre o simples

Não preciso de muito, não
Meus amigos, meus amores,
Papel, caneta e um violão

Como foi?

- Como foi?
- Abriu-me um sorriso, lindo como habitualmente, mexeu no meu cabelo e disse sentir saudade...
- E depois?
- Depois começou a falar um monte de palavras que fizeram meu coração ficar espiando pelas frestas dentre as veias, meio com medo e vergonha...
- E então?
- Então, falou-me sobre as sensações que eu causava, sobre a minha beleza, sobre a minha alegria, sobre a minha mania de falar sem parar...
- O que mais?
- Que eu era tão assim que devia ter aparecido antes, que eu tenho um jeitinho só meu, que sei deixá-lo feliz como há tempos não sentia...
- E aí?
- Aí?! Aí ele... Ele foi embora...
- Embora? Até quando?
- Até "um ou dois para sempres"...

Na cama com Madonna

Nunca gostei da Madonna. Nem do jeito dela, nem das músicas dela, nem de todo aquele apelo sexual.
Mas, de madrugada, sem achar nada interessante na TV, parei pra assistir a uma turnê dela que me deixou perplexa.
Nos shows, foram feitas críticas ao governo Bush, elogios a Michael Moore e foram expostas, entre outras, cenas de crianças palestinas e israelenses de mãos dadas. Defendeu a idéia de que a religião separa as pessoas (com a qual eu concordo plenamente). Falou ainda da importância do voto, da responsabilidade que os cidadãos deviam de ter e se esquivam e da necessidade de “acordar” metade do povo americano que permanece “dormindo”. Terminou o assunto dizendo: “a paz é bem mais profunda que a ausência de guerras”.
Quanto à vida particular, falou sobre o casamento com Guy Richie, dizendo que o casamento não era nada fácil, mas que dessa vez havia acertado, havia casado pelo motivo certo. Disse mais ou menos assim: “se tu encontrares uma pessoa e ela te parecer perfeita, corre o mais rápido possível pro lado oposto. Não existe alma gêmea. E a pessoa 'mais certa' geralmente é a que 'mais te irrita'. Porque ela te faz ver teus erros, encará-los, te faz pensar e pensar te faz crescer. Eu quero alguém que me faça crescer, alguém que me faça pensar.”
E nós tanto buscamos a perfeição. Alguém que “se encaixe” nos moldes pré-estabelecidos na nossa cabeça e sonhos.
“Alguém que te faça pensar...” Interessante, não?!
Sigo não gostando das suas musicas, mas, com certeza, mudei a idéia que tinha a respeito dela.
Como diz a minha irmã, a conversa das pessoas é sempre o prato principal.
Sirva-se.

Nada mais

Queria te ver dormir
Nada mais
Sem medo, sem culpa, sem vergonha, sem fingir
Queria te ver dormir

E te vendo, ali
Sorriria
Me imaginando em cada sonho teu
Imaginando que cada suspiro fosse meu
Eu só queria te ver dormir

Descriçao da cena: deitada na cama, inquieta, a mocinha acende a luz e procura o papel e a caneta. Escreve rapido antes que as palavras fujam ou saiam de ordem. Pronto, hora de dormir.

Um dia, só por um dia

Eu só queria que por um dia, um único dia, eu não pensasse em ti.
Talvez assim, ficasse mais fácil lidar com esse buraco que ficou aqui.
Um espaço que nada preenche, nem mesmo tu o conseguirias.
Porque mudamos a cada segundo,
e aquele que preenchia aqui, já não existe mais,
jamais.

Acho que descobri!

As lágrimas saem dos olhos pra chegar até a boca e dizer: - Guria, tu tá "loca"?! Vai tratando de sorrir!

"Aproveite enquanto o sonho é gratis"

Sonho porque lá é o único lugar onde ninguém me tira o sorriso do rosto.
Não que eu goste do meu sorriso. Até porque ele está "em obras".
Mas porque quando eu rio, fico leve, e quando fico leve, é como se pudesse voar pra qualquer lugar.

A estória da lua cheia que pensava que era minguante

Tava triste... Se dizia vazia... Tava faltando alguma coisa ali dentro. Mas ela não percebia que faltava era espaço, isso sim! Espaço pra tanta coisa boa que tinha dentro dela!

Hoje gostei menos de mim...

Parei na frente do computador sem nenhuma inspiração hoje. Mas ao mesmo tempo com um montão de idéias pra colocar no papel (eu e meu mundo). Quando comecei a escrever umas palavras que me visitavam me dei conta de que eu só sei falar de sentimentos e sensações. E parei! E me desgostei! Muito! Como queria escrever um dia sobre a situação política do país ou sobre a condição de vida do ser humano no Tibet ou Budapeste. Mas eu não sei... Não sei mesmo. E eu sei por que. Porque eu ignoro. Mas dificilmente alguém me chamaria de ignorante (ao menos ate hoje não o fizeram). Eu sou ignorante, sim. E é ignorante também quem não quer ver que sempre pode fazer mais por alguém (mesmo que não possa mudar o mundo); que a vontade de ir embora não pode nos impedir de ficar; que a beleza é vazia se não tem simplicidade; que todo lugar pode ser a nossa casa (desde que muito bem acompanhada); que “eu te amo” não é “bom dia”; que todo mundo pode viver um conto de fadas (e eu tenho certeza disso); que a insegurança revela uma ausência (sabe-se lá do que) e que não existe inimigo a não ser a gente mesmo. Droga! Já tô eu falando sobre o mesmo assunto!

Legal... Ora, legal! Fala mais!

“Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Recomendo! Uma das frases dita pela personagem principal foi a seguinte: “Ela era legal. Legal é bom”. Simples, não?! Talvez... Estamos num bar, restaurante, pub ou qualquer coisa parecida e alguém sem o qual temos grande intimidade nos pergunta:
- E aí? O que achou do lugar?
- Ah, legal! (resposta quase imediata).
Duas amigas dividem confidencias e entre risadas uma confissão:
- Ah, ele é tão legal comigo... É tão legal tá com ele... A gente faz tantas coisas legais juntos...
“Legal” se tornou onipresente. Ainda surgiu o “legal” intenso, ou seja, o “bem legal”. Em todas as conversas sempre cedo ou tarde aparece um “legal”. O que me deixa com uma pulguinha aqui atrás é que ele pode sugerir muita coisa, desde um total desapego a um medo de falar demais.
- O problema sou eu! Tu és um cara legal! É que a gente não combina! (Ora, querida, o cara ta se sentindo o menos legal da via láctea nessa hora).
Por isso eu gosto das crianças. Elas sim dizem o que querem dizer!
- Mãe, não gosto dessa professora porque ela tem cheiro ruim! Eu gostava da outra, que era cheirosa e me contava estórias (nada de “legal”).
Sei lá eu o conceito de “legal” de cada um.
Eu, Lara, gosto das minhas amigas porque elas são doces feito pão de mel e fazem ressaltar em mim o que tenho de melhor. Gosto das minhas aulas de teatro porque saio de lá vendo tudo mais bonito e estimulam minha sensibilidade. Prefiro filmes românticos a aventuras porque adoro me colocar no lugar das personagens! Amo a minha mãe porque ela é o meu porto seguro em meio a esse mundo em tempestade que me faz perder o rumo. Dou muitas risadas com a minha irmã porque temos muita sintonia e ela é um bauzinho de criatividade. Podia dizer que tudo isso é legal, mas não diria nada com isso.
Será que não sabemos usar outro adjetivo?
Se não, voltemos às aulas de Português. Ou melhor, sejamos menos “adulto” e mais “criança”.

Lágrimas de beleza

Eu sou uma chorona! Admito! Choro fácil, fácil. Já chorei lagrimas de tristeza, de alegria e de emoção. E por mais inexplicáveis e inesperadas, sabia que estavam indo embora por algum desses motivos. Mas hoje tive uma experiência nova (e maravilhosa). Chorei lagrimas de beleza. É, de beleza. Fui assistir ao espetáculo “THOLL, imagem e sonho” com a minha melhor amiga. Não bastasse a ótima companhia, com a qual qualquer programa ficaria bom, fiquei maravilhada, arrepiada, impressionada com o que vi. Circo, teatro, luxo, simplicidade, sensibilidade, criatividade e beleza. Tudo ao mesmo tempo e em grande quantidade. Ri, fiquei de boca aberta, balancei a cabeça por não acreditar. Eu olhava pra ela e dizia: “- Amiga! Que coisa linda!” E então caíram umas lagrimas dos meus olhos, as tais lagrimas de beleza. Era tão, tão, tão bonito que talvez elas tenham aparecido pra assistir ao espetáculo.

Pensamento do dia

De nada me adiantam palavras que o coração não sente.

Vinícius

Ela se vê elegante pela sua bolsa PRADA. Ele, pela camisa bem cortada.
Ela, pelo 36 que veste. Ele, pela mulher que tem do lado, ou pelo Mercedes estacionado.
Elegância... Nada disso torna alguém elegante.
Assisti ao documentario-filme chamado "Vinícius". Vida e obra do grande Vinícius de Moraes. Ele, com o seu cachorro engarrafado, cabelo desleixado e a camisa, bom, confesso que nem parei pra reparar. De nada importava. Porque quando ele falava, era mais que uma conversa fiada, era uma aula de elegância (mesmo com todos os palavrões citados).
A maneira como ele falava das mulheres, como falava com os amigos, como os cuidava.
Por vezes tinha vontade de entrar na tela, sentar naquele sofá e ficar ouvindo de pertinho tanta coisa bonita que ele tinha pra ensinar.
Gosto de suas poesias, de suas prosas, de suas crônicas. E aprendo com ele a cada frase que leio. Mas aprendi com "Vinicius" a essência da elegância: A GENTILEZA. Não há nada mais elegante que ser gentil.

"Senão é como amar uma mulher só linda. E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além da beleza,
Qualquer coisa de triste,
Qualquer coisa que chora,
Qualquer coisa que sente saudade..." (Vinicius de Moraes)

O mundo de Alegria

Todo dia encontro uma menininha de olhos verdes feito bola de gude, com seu vestido rosa feito chiclete e dividimos nossas histórias e nossos pensamentos sobre o mundo. Nesse nosso lugar mágico, todo dia é azul feito sabão em pó, todos sabem voar feito passarinho e não entra gente grande, não. Por quê?! Ora, “por quê"! Porque gente grande não brinca de bola de gude, já não come mais chiclete e acha que quem voa é avião!

A Rita

“A Rita levou meu sorriso no sorriso dela
Meu assunto levou junto com ela
E o que me é de direito arrancou-me do peito
E tem mais, levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel! Uma imagem de são Francisco e um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança nem herança deixou
Não levou um tostão porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos, meus pobres enganos
Os meus vinte anos, o meu coração
E além de tudo, me deixou mudo o violão “
(A Rita – Chico Buarque)

O motivo dessa musica estar aqui hoje não é somente a minha ultramegasuperhiperplus admiração pelo Chico, mas porque fala de um nome que hoje me roubou um sorriso maior que a via láctea inteira. Ela se chama Rita Apoena, mora em São Paulo e tem o lindo dom de saber combinar as palavras de um jeito doce, infantil, delicado, interessante, inteligente, único, bonito... Fico arrepiada toda vez que a visito. Ela esteve aqui, lenda as minhas palavras que sempre me fazem companhia. E me elogiou. Nossa, quanta alegria. Obrigada, Rita.

Deixo aqui um pouquinho dela...

“Sobre o menino

Então, quando você me beijar,
vai sentir o gosto da minha escrita,
pois a fim de nunca esquecê-las
eu trago todas as minhas palavras
na ponta da língua”

Lar(a) doce Lar(a)

- Ah, minha filha, como queria de volta o teu sorriso...


- Pode ficar sossegada, mãezinha. Ele está de volta e veio pra ficar. Foi logo pedindo um lugarzinho pra se acomodar. Contou-me que reencontrou o seu outro dia e ate intimidou-se com tanta beleza que via. Agora da cá um abraço, mãezinha, ele precisa matar a saudade que tinha.


(para a mulher mais linda da qual eu me orgulho todo o dia, todos os dias)

Encontrei! (ou ela me encontrou)

Depois de uma procura que me roubou noites de sono
Suspiros, lagrimas e mau humor
Encontrei a minha caixinha de lápis de cor...
Hora de colorir!

o espelho

Vi um desenho embaçado
Passei a mão em círculos pra limpar aquela imagem
Mas seguia a mesma
Então eu percebi
Que era o meu rosto
Que estava desfigurado

A eterna menina insatisfeita

Tudo bem, como diz minha irmã, no dia em que eu estiver satisfeita, já posso morrer. Claro, a insatisfação é como um motorzinho de popa. É ela que nos faz buscar, melhorar, realizar. Mas eu abuso. Tenho uma cadeira de palha, quero um sofá novo. Compro o sofá novo, troco o forro. Ganho um abraço, quero um beijo, ganho um beijo, quero mil.
Mas essa minha exigência não é só com o mundo lá fora. É comigo também. Sempre acho que poderia ter sido “mais” irmã, “mais” amiga, “mais” aluna, “mais” filha, “mais” namorada, “mais” mulher.
As vezes não consigo entender que fiz o que pude, me culpo e sofro com isso. Não vejo que EU sou a insatisfeita e que para o mundo posso ter sido ate mais do que ele esperava de mim.
Sei que não vou mudar durante a noite e acordar diferente. Sei disso. Mas me prometi que vou tentar. Se não conseguir, vou chorar até secar minha lagoa de água salgada. E então vou dar risada e tentar outra vez. E ainda assim, se nunca der certo, o mundo que vire pra lá. O mundo que gire de novo

A advogada do palhaço

Vi uma notícia em um jornal da cidade que me deixou um tanto incomodada (pra não dizer braba, triste e chateada).
Parei para lê-la porque vi que se tratava da Faculdade de Letras e sempre existiu em mim a vontade de cursá-la. Alunos da UFPEL protestavam por melhores condições do prédio ou porque iriam ser transferidos para outro que não era de seu agrado. Confesso que não gravei mesmo o motivo exato do protesto. Isso porque ao lado da notícia havia uma foto. Uma foto que me fez largar os ombros. Eles protestavam usando narizes de palhaço.
Ora, que palhaçada é essa?!
Sou a favor de protestos. Porém, palhaço não é sinônimo de idiota! Façam cartazes, passeatas, panfletos, gritem, até estourem rojões (desde que não atinjam ninguém). Mas, por favor, não sejam insensíveis a ponto de ridicularizar o que pode ganhar tantos sorrisos infantis. Palhaço dá alegria mesmo quando tá triste. Há até quem diga que são eternos infelizes. Mesmo assim, se colorem com o objetivo de roubar um sorriso sincero. Ele vive pra alegrar e alimenta sua alma disso.
Outro dia mesmo fui a uma creche e presenteei algumas crianças com vários deles, redondos e vermelhos. Seus olhinhos brilhavam! Então, deixo aqui uma dica: Façam vocês o mesmo, e talvez, no próximo protesto, usem orelhas de burro.

O caçador de pipas

Li e recomendo! Recomendo, não! Peço. Por favor, larga a novela das 8 ou os contatos do MSN, senta num sofá fofinho ou, como eu, deita na tua cama com um pijama de estrelinhas, e lê esse livro.
São 365 páginas de um romance... não sei uma palavra pra defini-lo. Encantador, de uma sensibilidade gigante, bonito e cheio de Superbonder (porque te cola nele e não te solta até a ultima pagina)!
Pelo nome, já imaginei que fosse bom. Pipas... Como quero que meus filhos brinquem assim. Carrinhos de madeira, 5 marias, catavento, estorinhas de fadas, casa na arvore, bazar na frente de casa (cheio de quinquilharia)...
Quando criança, meu pai me chamava de Pandorga. E até hoje ele ainda fala isso. Pra quem não sabe, é o mesmo que pipa. No inicio não sabia o porquê, mas depois descobri que era porque eu tava sempre voando. Sempre longe pensando em tudo, menos no que se passava no momento. Não achava muito bonito o nome, confesso. E ate ficava brava às vezes. Mas depois eu ria, achava engraçado.
Depois de ler esse livro, quero ser mais que Pandorga, quero ser um “caçador de pipas”.

A Estrelinha

Todas acesas... lindas!
Menos ela... sozinha...
O seu medo do escuro
Não a deixava perceber que só ele poderia fazê-la brilhar
ele a procurava e ela fugia
quando se deu conta
o escuro ja era dia

Sobre o menino do mar

Não precisava falar pra mim
As palavras pulavam de seus olhos,
suas mãos
e até do ar que respirava

Uma bolha...

Vi OS INCRíVEIS há poucas horas... Não lembro de algum dia querer ser um super-herói. Até hoje. Até poucas horas...
Uma das personagens chamava Violeta e ela tinha um superpoder que me fez querer ser como ela. Na verdade não era um superpoder, eram dois! Um deles era o de ficar invisível (o que a fez desaparecer de vergonha quando o menino que ela gostava foi falar com ela) e o outro (o que quero pra mim) era se proteger numa bolha. Isso mesmo, uma bolha. Sempre que alguma coisa ia dar errado ela entrava na bolha e levava quem tava pertinho dela. E ali dentro nada podia machucá-la, nada podia machucar quem ela gostava. Como não tenho superpoderes, me resta fazê-la gostar de mim pra me levar com ela.

"Pintaram tudo de cinza"

Não gosto de dias cinzas. Eu fico meio cinza também. Fica tudo sem graça e não dá vontade de sair de casa.
Não lembro de dias cinzas quando eu era criança (ou talvez eu soubesse colorir o dia)

Coragem, Sra. Ilusao, coragem

Eu quero fugir
Mas tu não me deixas
Nunca gostei de ti
Por que insistes em gostar de mim?
Vai-te, Sr. Medo, pra bem longe daqui

Ass: Sra. Ilusão

(Pra ti, minha irmãzinha linda...)