Sunday, July 16, 2006

A cor das paredes

Mudei meu quarto de lugar, ou melhor, mudei os móveis de lugar. Troquei o lugar das roupas no armário, inverti a ordem das gavetas de meias, calcinhas e companhia. Tive vontade de pintar as velhas paredes azuis, talvez de vermelho, verde, ou branco mesmo. Encontrei uns bilhetinhos de tempos atras que me roubaram um ou dois sorrisos. Tirei o pó das revistas, dos livros e do velho porta-jóias. Depois de tudo arrumado, parei na porta do quarto. E, pra minha tristeza, percebi que estava tudo igual. Porque a minha vontade de mudança ia muito além dali, muito além da minha casa, muito além da minha velha cidade úmida. Mas a gente sempre faz assim. Disfarça, desconta, finge que fez o que queria. Mas, não. Na maior parte das vezes, a gente quer muito mais. Muito mais que a cor das paredes, muito mais que mudar as telhas quebradas, muito mais que o endereço novo. A gente quer um mundo novo. E quando falo em mudar de mundo, não se trata de nenhuma visita a outra galáxia, mas sim, o meu mundo. O que eu vejo, o que eu destruo, o que eu construo, o que espera algo de mim a todo segundo. Talvez o que eu mais queira agora seja um “não saber”. Não saber quem eu vou encontrar no caminho do teatro, não saber que rua me espera ao dobrar a esquina, não saber se cumprimento porque ainda não conheço (e entao eu venço a minha vergonha, estendo a mao e dou beijo), não saber o que te faz sorrir (e entao eu usaria toda a minha criatividade para que visse um, um pequeno pedacinho do teu sorriso). Mas não. Eu sei quem eu vou encontrar, eu sei qual a rua que me espera e quais as velhas arvores estao la, eu sei o que te faz sorrir e ate o que te faz chorar, eu te cumprimento, porque a gente se conhece há tanto tempo. Por isso eu mudei meu quarto, esperando que mudasse alguma coisa.