Tuesday, September 11, 2012

Sobre mãos e mães


Ontem à noite, quando passava os cremes antiidade, vi a mão da minha mãe. Mas não era a dela que eu via. Era a minha. Envelhecida. Nunca tivemos mãos parecidas. Nunca fomos parecidas. Sempre carreguei os traços - e jeito - do meu pai. Até que um dia eu deixei o ninho. E ao deixar o ninho, deparei-me diversas vezes com minha mãe. Nas manias, nos cuidados, nos pequenos gestos delicados,na determinação incansável de só ir deitar quando tudo estivesse no lugar – e a luz apagada. Em tudo que eu, por vezes, reclamava. Sair do ninho é perceber-se. É descobrir como se é sem o véu protetor, confortante e confortável que ganhamos com o primeiro abraço de mãe.

Wednesday, July 25, 2012

Aprendiz de feiticeiro

Voltei a escrever. Esse, agora, é o meu compromisso. E o mais difícil é que esse compromisso é comigo mesma, e é muito fácil trapacear com a gente mesma. Reclamar do trabalho, reclamar das contas, reclamar da vizinha eclética sem critério musical, não traz nada de bom. Escrever traz. Escrever é dividir – mesmo que só com a gente mesma, só que 5 (ou 30) anos depois. Eu sempre gostei de escrever, fazia cartinhas e colocava debaixo da porta do quarto da minha mãe pra pedir pra ir naquela festa, enviava pra uma amiga de longe pra falar sobre a falta que ela fazia ou pra surpreender o namorado – ou ao menos pra tentar conseguir isso. Acho que quando escrevíamos algo pra alguém éramos mais criteriosos, mais cuidadosos, mais delicados. Não lembro de saber de alguém que enviasse pelo carteiro 5 cartinhas iguais pra 5 meninas diferentes. Hoje, o mesmo recadinho que chega pra uma, no mesmo instante chega pra mais meia dúzia delas – e, se bobear, pra melhores amigas. Escrever pra alguém era algo quase lúdico. Lembro de receber cartinhas de meninos no colégio e que, hoje, imagino o quanto ficaram em dúvida antes de entregar – ou pedir que o melhor amigo o fizesse. E caso soe algo infantil, não só as crianças faziam isso. Meus avós faziam isso. E depois reencontravam as cartas em meio a livros amarelados. Escrever pra alguém, com cuidado, é mágico.

Monday, May 14, 2012

Pelas tabelas

Não é fácil criar uma marca. Medos. Apostas. Impostos. Sonhar é bem mais fácil que projetar. Sonhar é colorido. Projetar é preto e branco. Sonhar é ver o que pode dar certo, projetar é mensurar os riscos. Mas ter uma marca não se trata só de uma patente, um right, um símbolo gráfico. Ter uma marca é algo que nasce com a gente, como o jeito de prender o cabelo, de amarrar o cinto, de maquiar o cantinho do olho, de encontrar aquela peça desacreditada e empoeirada no canto do brechó e dar a ela uma vida nova – e graciosa. Foi assim que duas irmãs resolveram que era hora de acreditar no sonho e criaram um projeto em cores.

Monday, January 30, 2012

Perto de longe

E saber-se lembrada é o prêmio do dia. É alegria pura, na sua mais concentrada e simples essência. Saber-se lembrada é ouro, é riso, é vôo. Saber-se lembrada é viajar pra perto, pousar ao lado e descansar no peito.