Wednesday, July 25, 2012

Aprendiz de feiticeiro

Voltei a escrever. Esse, agora, é o meu compromisso. E o mais difícil é que esse compromisso é comigo mesma, e é muito fácil trapacear com a gente mesma. Reclamar do trabalho, reclamar das contas, reclamar da vizinha eclética sem critério musical, não traz nada de bom. Escrever traz. Escrever é dividir – mesmo que só com a gente mesma, só que 5 (ou 30) anos depois. Eu sempre gostei de escrever, fazia cartinhas e colocava debaixo da porta do quarto da minha mãe pra pedir pra ir naquela festa, enviava pra uma amiga de longe pra falar sobre a falta que ela fazia ou pra surpreender o namorado – ou ao menos pra tentar conseguir isso. Acho que quando escrevíamos algo pra alguém éramos mais criteriosos, mais cuidadosos, mais delicados. Não lembro de saber de alguém que enviasse pelo carteiro 5 cartinhas iguais pra 5 meninas diferentes. Hoje, o mesmo recadinho que chega pra uma, no mesmo instante chega pra mais meia dúzia delas – e, se bobear, pra melhores amigas. Escrever pra alguém era algo quase lúdico. Lembro de receber cartinhas de meninos no colégio e que, hoje, imagino o quanto ficaram em dúvida antes de entregar – ou pedir que o melhor amigo o fizesse. E caso soe algo infantil, não só as crianças faziam isso. Meus avós faziam isso. E depois reencontravam as cartas em meio a livros amarelados. Escrever pra alguém, com cuidado, é mágico.