Wednesday, January 27, 2010

Chuva de verão

Eu sempre gostei dela. Desde pequeninha eu achava divertida aquela chegada de surpresa, mesmo que tentasse acabar com meu passeio. Mas eu ficava lá, encarando. E, por mais que a gente toda fizesse cara de brava, eu sempre via um meio-sorriso no canto do rosto. Aí era aquela gritaria e todo mundo correndo pra lá e pra cá. Desmanchava os penteados das vovós e acabava com os paletós que tinham acabado de vir da tinturaria. Tira a roupa do varal! Fecha as janelas! E quando mal se via, lá ia ela. Agitava a gente toda e ia logo embora, como se viesse só pra fazer essa mesma gente toda parar de girar a roda da mesmice. Vinha pra renovar, refrescar. Refrescar os rostos, as flores, o ar. Eu conheço pessoas assim: pessoas como CHUVA DE VERÃO. Chegam de repente, num domingo ensolarado ou numa tardinha sem graça e mudam tudo. E ainda há gente que faça cara feia, mas assim como eu via na infância, ainda reconheço os meios-sorrisos. Elas passam, simples assim, pois existem muitos rostos, muitas flores e muitos ares precisando delas. Mas voltam, no próximo verão elas voltam.