Eu sempre gostei dela. Desde pequeninha eu achava divertida aquela chegada de surpresa, mesmo que tentasse acabar com meu passeio. Mas eu ficava lá, encarando. E, por mais que a gente toda fizesse cara de brava, eu sempre via um meio-sorriso no canto do rosto. Aí era aquela gritaria e todo mundo correndo pra lá e pra cá. Desmanchava os penteados das vovós e acabava com os paletós que tinham acabado de vir da tinturaria. Tira a roupa do varal! Fecha as janelas! E quando mal se via, lá ia ela. Agitava a gente toda e ia logo embora, como se viesse só pra fazer essa mesma gente toda parar de girar a roda da mesmice. Vinha pra renovar, refrescar. Refrescar os rostos, as flores, o ar. Eu conheço pessoas assim: pessoas como CHUVA DE VERÃO. Chegam de repente, num domingo ensolarado ou numa tardinha sem graça e mudam tudo. E ainda há gente que faça cara feia, mas assim como eu via na infância, ainda reconheço os meios-sorrisos. Elas passam, simples assim, pois existem muitos rostos, muitas flores e muitos ares precisando delas. Mas voltam, no próximo verão elas voltam.