Monday, August 21, 2006

Saudade

Como eu tenho saudade... Saudade aquela forte que aperta o peito e molha os olhos.
Eu, pequena, olho estalado, sorriso fácil, ouvindo meu pai cantando as lindas musicas do Chico. As longas viagens no banco do meio do carro, mesmo que durassem 5 minutos. Minha irmã, perfeitinha feito boneca, com cheirinho de talco. O motorista da minha mãe buscando-a na frente de casa (é, motorista! Chic, não?!). E eu me despedindo vendo-a sair sempre linda e perfumada. As longas conversas com minha amiga imaginária. Os olhos do meu avô (os mais impressionantes que já vi) sempre acompanhados de um abraço apertado e balinhas de mel. Os papéis de carta que colecionei e nunca enviei. Preciso parar por aqui antes que duas ou dez lagrimas resolvam me visitar.
Mas tenho saudade do que não vivi e isso me encasqueta!
Tenho saudade dos tempos de guri do meu pai... Onde eu não era nem um projeto. Como queria tê-lo visto. O primeiro olhar trocado com minha mãe! Nossa! Daria o dedo mindinho pra estar ali, na condição de espectadora mesmo. Como num filme, onde eles seriam as personagens principais e o cenário todo fosse feito pra eles, pra contar a historia deles.
O rosto da minha mãe ao me ver nascer. Tudo bem, tirando o suor e o cansaço, aposto que ganhei um sorriso. Lindo! Quanta saudade...
Tenho saudade dos encontros de poetas e escritores, onde bebiam uísque, fumavam cigarros e cantavam. Exagero, não! Saudade mesmo! Dez minutinhos debaixo da mesa ouvindo Chico, Vinicius e Tom. Saudade de compor uma musica onde a censura pouco permitia e mesmo assim muito se dizia. Haja sabedoria! “Apesar de você”, “Meu caro amigo”, eu sigo afirmando! Como eu tenho saudade!
Antiquário! Ai de quem me acompanhe com pressa e passe por um antiquário: Parada Obrigatória! Não fosse a beleza de tudo que é “velho”, me encanta que cada objeto dali traz consigo um livro apensado. Quanta historia! E sinto saudade da velhinha que outrora fazia tricô naquela cadeira de balanço.



“No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...”
(Roda Viva – Chico Buarque)