Sunday, September 24, 2006

Estrela, estrela

- Porque está dentro de mim, faz parte de mim, cresci assim. Acreditei desde quando pequeninha subi na cacunda do meu pai e vi o Lula lá, longe de mim, detrás de uma imensidão de bandeiras vermelhas que carregavam mais que uma estrela, carregavam esperança. Porque as aulas de historia eram umas das que mais me encantavam e sempre admirei a luta da Esquerda nesse país. Porque a cada comício meus olhos enchiam d’água ao olhar para o lado e reconhecer tantos amigos sem nunca tê-los visto antes. Desde lá, eu cantei, colei todos os adesivos que ganhei, chorei, comemorei, votei e voltei pra casa com a consciência tranqüila (e feliz). Porque espero que todos tenham as mesmas oportunidades, que eu não dispute minha vaga na próxima universidade com quem não teve um bom ensino médio, que todos sejam capazes, que se orgulhem por ter conquistado alguma coisa. Porque, tristemente, com um aperto no peito, começo a deixar de acreditar que o meu país possa melhorar enquanto vivermos sob esse sistema movido pelo dinheiro e interesses individuais. Então, enquanto eu votar, enquanto o sistema não mudar, votarei num sonho, o sonho da menininha que nada entendia de política, mas que já sabia sentir. Respondido?

Monday, September 18, 2006

Da noite pro dia

Ao olhar através da janela do quarto, viu nascer um dia branco, feito uma imensa folha de papel, trazendo consigo uma idéia de criança, uma tamanha vontade de escrever no céu. Mas não descobria como o faria. Foi quando surgiram, desordenados, os pássaros. Então, deu a eles o formato que queria, até criar uma única palavra: Saudade. Foi assim, que, pela primeira vez, pôde escrevê-la do tamanho que a sentia.

O avesso

O que aquece é o avesso da roupa
O que ensina é o avesso do livro
O que sacia é o avesso do copo
O que alimenta é o avesso do prato
O avesso
Só o avesso me importa
De nada me vale o lado de fora
Mostra-me o teu lado avesso
Peço-te
Teu lado despido de pudores
Receios e medos
Tuas falhas e teus remendos
Tuas feridas e teus tormentos
Tudo que reside escondido do lado de dentro
Teu oculto
Teu revesso
(E todo o resto)

Na roda gigante

- Posso fazer um pedido? Só um?
- Pode, claro!
- Quero me sentir assim pra sempre...
- Assim como?
- Assim... Desse jeito... Uma vontade de sorrir; uma vontade de mudar o que me incomoda, de pedir desculpas; uma vontade de pedir pra ficar um pouquinho mais; uma vontade de usar todos os meus vestidos (combinando com a bolsinha); uma vontade de apagar todas as luzes e deixar por conta das estrelas; uma vontade de escrever, de fazer música mesmo sem saber; uma vontade de dançar, de contar histórias, e de ouvi-las também; uma vontade de sentir frio pra ficar pertinho; uma vontade ir embora só pra poder voltar e sentir tudo outra vez...

(Silêncio)

- Posso fazer um pedido também?
- Pode!
- Divide comigo?
- Dividir? O quê? O que eu tô sentindo?
- Não, o teu algodão doce!

Sunday, September 17, 2006

Sintonia fina

Sei que uma hora ou outra, cedo ou tarde, vais mudar. Sei que vais mudar. A todo tempo tudo muda. É só um piscar de olhos e está tudo diferente. E não há o que eu possa fazer agora - nem depois – pra que isso não aconteça. Então, tomara que eu mude contigo. E que esses novos "nós" não se desfaçam. Que a minha nova mania não te incomode (e que aquela antiga não te faça falta). Que os teus novos conceitos não me agridam, mesmo que eu discorde deles (o que é bem provável). Que o meu sorriso, agora não mais tímido, te roube um novo também. Que eu não perca o que te agrada, ou, caso ocorra, que mude o teu gosto. Mudemos. Inúmeras vezes. Não importa. A mudança não mais me assusta, desde que mudemos juntos.

Wednesday, September 13, 2006

Sobre conversas e colchetes

Como seria bom se certas cenas, certas conversas, certas frases da vida, pudessem ser postas entre colchetes.
Tem horas em que eu falo e me arrependo; noutras, calo, por faltar coragem pra falar; e há ainda as vezes em que não seguro, não arrependo, mas bem que seria bom se passassem despercebidas ou deixassem apenas aquela dúvida [-será que ela quis dizer isso mesmo?]
Confesso que nunca usei os tais colchetes a nao ser nas equaçoes matemáticas, as quais me causam enjôos só de lembrar, mas tenho um amigo em especial que me deixou curiosa desde a primeira vez em que os escreveu [e claro que havia muito conteúdo dentro deles - e dele]. Então, parei pra analisar que muitas vezes, o que estava ali dentro dizia muito mais que o resto todo, mas se fosse dito assim, sem uma "bossinha", passaria ou causaria um efeito desprepositado por deixar as palavras assim, desprotegidas. Talvez seja isso. Proteçao. [E quem nao precisa?]

Wednesday, September 06, 2006

Um verso óbvio num lugar impróprio

Deitada na rede
(- O empregador deve pagar com eventual diferença)
Barulho do mar
(- Por uma questão de alçada)
Chega sem avisar
(- E até por uma questão de rito a ser adotado)
E, ao passar, acaricia
(- Há uma definição na CLT)
Mesmo sem tocar
(- Do que seja força maior)
Não fica, não cabe ficar
(- O caso fortuito seria só uma imprevisibilidade)
A brisa
(- Percebam que o acontecimento não foi possível evitar)
Então passa
(- A doutrina cita dois fatos)
Só passa
(- O incêndio e a inundação)
A brisa leve
(- Nem sempre é tão tranqüilo)
Tomara voltar
(- Com relação às questões de segurança)
Em breve
(Compreende?)

Tuesday, September 05, 2006

Sobre o gostar

- Cada um tem seu gosto! - disse.

- (Como pode? Uns tão azedos e outros tão doces...) - pensei.

Saturday, September 02, 2006

Na livraria

A todo tempo as pessoas estão se encontrando. Encontros combinados ou ao acaso. No supermercado, na escola, no trabalho ou no sinal fechado.
Mas, acredito que os grandes (falsos) cupidos sejam os bares, na sexta, sábado ou véspera de feriado. Então, ele se aproxima meio sem jeito. Ela, bem maquiada, a roupa bem combinada e o cabelo vindo diretamente da propaganda de xampu (de tão bonito). Talvez por saber fazê-la sorrir, ele ganha espaço e trocam algumas idéias sobre o lugar (ou sobre o mundo lá fora). Então, por algum motivo, ela pára pra pensar que ali, naquela noite, todos parecem muito propícios a aproximações. É mais fácil, é mais aceitável, é mais óbvio que na padaria. Pra ela, é fácil parecer bonita à noite. Pra ele, é fácil parecer extrovertido depois de algumas bebidas.
Quem sabe, um dia, numa livraria, sem maquiagem, cabelo preso e calça de abrigo, eu receba um buquê de lápis (criativo, não?!) pra escrever sobre tudo que me provoca. Então, eu caso - juro! - sem parar pra pensar nem um minuto (ou, talvez, só o tempo de um suspiro).