Wednesday, January 24, 2007

Volta logo

Ela é linda com dor de barriga, ela é linda dormindo e até quando acorda cheia de remela. Ela é linda chorando e mais ainda sorrindo. Ela é linda passeando e linda quando pára diante do espelho. Linda penteando o cabelo e linda fazendo batata frita. Ela é linda nas palavras, nas idéias, nas mãos (sempre quentinhas), nas roupas bagunçadas no armário. Linda nos livros que ficaram na estante, linda nas músicas que gosta de ouvir. Linda na escova de dentes que ficou perdida. Linda de salto alto e linda de pés descalços. Linda quando briga comigo, quando dá gargalhadas e linda quando fica de beicinho. Linda nas fotos que não paro de olhar. Ela é linda quando me faz sentir uma saudade deste tamanho. Simplesmente, linda.

Sobre cenários e silêncios

Quando eu era pequena, bem pequena, tinha uma amiga imaginária. E não importava se eu tava feliz ou triste, sempre corria ao telefone pra falar com ela. Talvez por saber que ela ia concordar com tudo que eu falasse, por saber que eu podia falar o tempo que quisesse, que ela não ia fazer cara feia, nem pediria pra eu ligar depois porque tava no trânsito, fazendo a unha ou assistindo ao programa preferido na TV. Por saber que por mais errada que eu estivesse, ela seria compreensiva. Eu só queria dividir com ela, criar estórias, discutir problemas que eu mal sabia que um dia existiriam de verdade e aí, sim, seria bom brincar de faz-de-conta. Eu podia contar sobre meu dia criando cenários mais coloridos, conversas mais demoradas que um:
“- Oi, td bem?
- Td. E cntg?
- Tb.”
Podia chorar sem me preocupar se iria deixá-la triste ou não. Podia ficar em silêncio, só ouvindo a respiração (mesmo que fosse a minha mesmo). Então eu falava... Falava horas (naquela época ainda não sabia o que era uma conta de telefone).
Perdi minha amiga imaginária. O telefone ficou caro demais. Eu cresci. E agora, percebi que escrever foi a minha nova versão (bem menos criativa, como todo e qualquer adulto) da minha amiga. Novas versões... Sempre prefiro as antigas. Talvez por ser saudosista - mas isso é assunto pra outro dia. Preciso desligar. Boa noite e bons sonhos. Um beijo.

Sunday, January 14, 2007

Sobre o despercebido

Um silêncio. Não havia barulho algum, nem gente passando pra lá ou pra cá. Pela primeira vez seguiu como se fora dona da ruazinha. Só seguiu. Linda e sua. Mas, o sinal fechou e ela não reparou. A formiguinha mal sabia o que vinha dali, mal sabia o que vinha de qualquer lugar. Seguiu, sem medo e sem saber o que encontraria na perpendicular. Seguiu pela ruazinha. A ruazinha que deu fim à formiguinha. Ninguém levou rosas ou margaridas. Ninguém chorou. Ninguém nem sequer parou pra olhar a formiguinha.