Wednesday, March 14, 2007

Sobre flores e gatos

Talvez não sejam os gatos os únicos a ter 7 vidas. Já morri tantas vezes... Morri numa despedida, numa palavra que foi calada, na distância que me fez esquecida. Morri num abraço, morri numa estrada de volta pra casa. E fiquei ali. Estendida. E ninguém paga o enterro e as flores quando a gente morre de amores. Amor por alguém - e até por mim mesma, por um sonho, por um pedacinho que se desmancha. E, depois de algum tempo, vivo outra vez. Volto a sentir o ar tomando conta dos pulmões, mesmo que sufoque por um tempo. E tenho de voltar a caminhar, voltar a sorrir, voltar a encostar as mãos, voltar a acreditar nos sonhos, voltar a ser leve, deixar de ficar presa ao chão e voar por aí. Enquanto não chega esse tempo, o tempo de viver outra vez, fico ali, sem forças, sem graça, e vou indo embora junto com cada lágrima que cai do meu rosto. Até que, um dia, viro menina outra vez, com todas as incertezas, com toda fragilidade, hostilidade, com todas as dúvidas e medos. E vou crescendo e aprendendo tudo outra vez – e insistindo em não aprender as mesmas coisas de sempre. Insistindo em acreditar na ilusão de que viver é indolor.

Sunday, March 11, 2007

Sobre o querer

Podia querer um bom carro, uma casa na praia e um cachorro que não babasse. Podia querer ser linda, magra e com um cabelo - naturalmente - liso. Podia querer ser poliglota, saber cantar, dançar e tocar piano. Podia querer viajar pra Bruxelas, uma TV de plasma ou virar Diplomata. Podia querer três filhos, escrever um livro ou sair na capa da revista. Podia viver noutro século, ser homem, menino ou pé-de-moleque. Podia querer ser boneca, flor, música ou ate um país (o das maravilhas). Podia querer ser princesa, atriz de cinema, cachoeira ou acreditar no meu Partido. Podia querer viver mil anos, virar anjo, estrela cadente e cair por aqui. Mas, não, agora eu só queria que tudo ficasse bem.

Friday, March 09, 2007

Sobre o vazio

“... mais ridículo ainda, é não escrever cartas de amor” Essa é a capa de um pequeno caderninho - lindo - que ganhei de uma grande amiga. E, ao me entregar o presente, ela pediu que eu escrevesse sobre o assunto. Muito bem, mãos à obra. De uns tempos pra cá, o romantismo ficou fora de moda, os relacionamentos viraram drive thru e as boas (e velhas) declarações de amor tiraram férias. As músicas, as roupas, as idéias, agora cobertas de estupidez e recheadas de um vazio sem tamanho. “Você era a princesa que fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país” dizia Chico Buarque. “If you wanna be rich You got to be a bitch” diz, hoje, um desses aí que nem sei o nome. Isso, sim, é ridículo. Ridículo é fingir um sorriso feliz, ridículo é não ser autêntico, ridículo é esconder que falhou. Ridículo é ter vergonha de si mesmo, é mentir o tamanho, o peso e as intenções. Ridículo é não ler, não ouvir, não abraçar a mãe e o pai. Ridículo é criar pré-conceitos, é não andar a pé, é não chorar, não dançar, não colocar o pé na areia, não sentir a chuva, e, mais que tudo, ridículo é ter vergonha de dizer que amou.