Tuesday, February 27, 2007

As mentiras que as mulheres contam

Perdi o sono, bati o carro e tô sem grana pro conserto. Tô desempregada, doente, o ventilador quebrou e tá um calor do cão. Não tem água na geladeira, abandonei a Coca-Cola, o aparelho fez ferida, o cachorro não pára de latir e tô com dor de cabeça. Não aguento mais meu cabelo e não confio em cabelereiro. Tenho que acordar cedo, pegar um ônibus e a previsão é de chuva. Engordei, desbotei, tô mal humorada, na TPM e a unha- RECÉM PINTADA - estragou. Não tem chocolate, nada interessante na TV e a lâmpada queimou...




(... ele tá longe)

Sobre cuecas e futebol

“As mulheres casam com Che Guevara e depois pedem pra que ele tire a barba”
Ouvi essa frase inteligentíssima numa entrevista com Maitena, escritora argentina. E, rindo, tive de concordar.
Então, a gente se encanta. Por algum motivo que não se explica, ou porque ele tem um belo sorriso e palavras incomuns no vocabulário, o resto das luzes se apagam e fica uma só acesa: bem em cima dele. E a cada dia algo de novo surpreende e até o que incomoda a gente releva (afinal, não é qualquer um que tem um perfume daqueles). A gente ri com ele, ri dele e ri até sozinha também. E chora. E sente saudade. E fica duas horas esperando ao lado do telefone - só apanhando pó, porque ele foi pro jogo de futebol da semana e não avisou (mas, também, não é nada tão grave assim, basta um abraço - mesmo suado e depois de uma derrota por 12x0 - e a gente já se derrete ). Ele esquece o aniversário de namoro, o aniversário da sogra e até do nosso aniversário (ah, mas eu também já esqueci o aniversário da Tia Lurdes – aquela que mora há 8 anos em Manaus). Tudo passa. Tudo se justifica. Nada tem tanta importância quanto a presença dele.
Até que um dia a gente “cansa”. Fica irritada por quase nada (até porque ele não lembra o nome da nossa Tia – aquela, a Lurdes). Aí começa o perigo.
A gente quer mudar a mania de deixar as cuecas no chão do banheiro – a qual nunca surtiu reclamações - e até a de dormir cedo demais. Quer que ele goste de literatura e que seja mais descontraído. Que não vá ao futebol da semana – o mesmo de 14 anos atrás – para fazer ioga com a gente. Que ele se interesse por Neruda, por moda, por drenagem linfática, que mude o cabelo, que aprenda malabares – e ele nunca foi lá muito habilidoso. A gente resolve brincar de massinha – a de modelar. E passa a querer moldá-lo do nosso jeito – e, de preferência – que caiba na nossa mão.
A gente se apaixona por alguém que chega já pronto – mesmo com os defeitos de fabricação. A gente se adapta? Claro! A gente se esforça? Às vezes. A gente melhora? Tomara! Mas mudar, ninguém muda. E, cá pra nós, ele fica LINDO demais com aquela barba.

Superdosagem

De repente fiquei doente. E doeu. Ah, doeu. Mas mesmo chorando, mesmo querendo tomar um comprimido pra dormir pra sempre, eu tava feliz. Feliz pelos cuidados da mamãe, pela atenção do papai e pelos carinhos do moço do pé engraçado. E tão de repente quanto fiquei doente, curei. Deram-me o mais poderoso dos antídotos contra tudo o que há de ruim: doses imensas de amor.