Monday, October 16, 2006

Sobre o inesperado

Tinha um melhor amigo, o Abajur, mais conhecido como “moço da cabeça quente”. Era ele quem fazia com que ela dormisse sem medo nas noites sem estrelas, de céu escuro. Ele ouvia todas as suas estórias com a mesma cara de “não é comigo”.
Gostava de ouvir o barulho do gelo saindo das forminhas e de ficar olhando a fumacinha que saía do chocolate quente.
Nas tardes de sol, fazia corrida de tatu-bola ou tentava afogar os peixinhos que pescava (é, ela nunca foi muito esperta). Mas um dia, ela acordou e viu que havia crescido. De repente, sentiu que tudo tinha ficado nublado e começou a sentir molhado o seu rosto. Abriu a mao virada pro céu na esperança de sentir alguma gota de chuva. Sentiu cócegas nas bochechas, pelo caminho onde as lágrimas passavam, e assim, mesmo chorando, sorriu.

Thursday, October 05, 2006

Pé na estrada

Adoro estradas. Dão-me uma idéia de novidade. Sei que encontrarei algo novo no fim (talvez até no meio) dela ou - quem sabe - eu serei a novidade depois de percorrê-la. Uma estrada onde eu não possa enxergar o que me espera, mas com a certeza de que terei um abraço apertado quando der vontade de voltar. Uma estrada reta, simples, sem curvas, segura, num lindo dia ensolarado, ou curvas acentuadas debaixo de um temporal. Não importa como. Não importa onde (nem pra onde). As estradas são como passar de fase no meu antigo (muy antigo) Nintendo. Por mais difícil que seja, sei que tem algo me esperando, mesmo que seja apenas uma nova paisagem, um novo sorriso, uma nova velhinha fazendo bolo, uma nova menininha esperando pra brincar comigo. A única diferença é que no videogame a gente descobre truques, a gente tem mais de uma vida, a gente desliga e segue no outro dia, a gente “reseta” – deve ser por isso que ele perde a graça, por poder tentar tudo mais de uma vez.